Título: Campo Majoritário mantém hegemonia
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 21/09/2005, País, p. A7

Nem as sucessivas acusações de fraudes foram suficientes para retirar o Campo Majoritário do poder no PT. Há dez anos no comando do partido, a partir do Diretório Nacional, grupo atingiu ontem, com cerca de 80% das urnas apuradas 43,6% dos votos. No entanto, quando somado a três grupos regionais tradicionalmente aliados ¿ as chapas Socialismo e Democracia, O partido que muda o Brasil e O Brasil agarra você ¿ a esfera de influência do Campo chega a 53,4%. Além desses grupo, o Campo tem sido apoiado nos últimos anos por parte do Movimento PT, que até os últimos números divulgados ontem tinha 10,9% dos votos.

O candidato a presidente do PT pelo Campo Majoritário, Ricardo Berzoini, reconheceu ontem que na composição com outras alas, o Campo poderá manter a hegemonia interna.

Apesar disso, a diminuição da votação do Campo ¿ cuja chapa perdeu 8% em relação a 2001, quando conseguiu 52% dos votos sozinha ¿ deve fazer com que a bancada governista do Diretório Nacional, que chegava a 70%, seja reduzida para cerca de 60%.

¿ O recado das urnas é que o Campo Majoritário deixa de ser o campo majoritário. É o fim das maiorias fixas no PT ¿ declarou Berzoini.

Otimista, a atual direção também conta com uma parte ¿responsável¿ da Democracia Socialista, ligada ao ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), mas nada assegura que parte da DS, uma bem-estruturada corrente radical, vá votar de forma ¿responsável¿ no diretório.

Com as alianças, a própria denominação da ala tende a ser abandonada e uma nova nomenclatura adotada, provavelmente a da chapa que concorreu na eleição, ¿Construindo um Novo Brasil¿.

Os líderes do Campo iniciaram uma operação de limitação de danos, tentando dar um viés positivo à derrocada. Passaram a dizer que a hegemonia das teses defendidas por eles, de uma política econômica ¿responsável¿ e de alianças ao centro e à direita para assegurar a ¿governabilidade¿, foi assegurada.

¿ O resultado é positivo para construirmos uma nova maioria. Vai nos obrigar a pensar, a produzir. Gosto do desafio ¿ declarou Berzoini.

Para o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), a militância mostrou ter compromisso estratégico com o partido.

¿ Todas as teses de sustentação ao governo e à sua política econômica saíram amplamente vitoriosas desse processo ¿ disse.

A preocupação da atual direção do partido é não passar a impressão de que o crescimento da esquerda interna colocará em xeque a política econômica. Um deles ¿ provavelmente Raul Pont (Democracia Socialista) ou Valter Pomar (Articulação de Esquerda) ¿ deve disputar um segundo turno contra Berzoini em 9 de outubro.

O fato é que o Campo Majoritário, nascido em 1999 num encontro em Belo Horizonte por obra e inspiração do então presidente do PT José Dirceu, deve perder sua maioria automática no partido. A ordem, entretanto, é relevar esse fato e blindar a economia.

¿ O governo vai passar a ouvir mais, mas ninguém vai desmontar a política econômica. Aqui não tem maluco ¿ disse o deputado federal Jorge Bittar (RJ).

O tesoureiro do partido, José Pimentel, diz que ¿de forma alguma¿ a eleição levará a uma inflexão à esquerda pelo PT.

¿ O PT continua com seu programa inalterado.

Com Folhapress