Valor Econômico, v. 20, n. 4871, 01/11/2019. Empresas, p. B6

Próxima tecnologia requer mais fibra
Gustavo Brigatto


A discussão sobre a implantação da tecnologia 5G no Brasil vai muito além do modelo de leilão previsto pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e esbarra em aspectos menos óbvios, como o consumo de energia elétrica, estrutura atual das torres de transmissão e a disponibilidade e a qualidade das redes de fibra óptica no país.

“É um processo muito diferente do que foi a migração do 2G para o 3G e do 3G para o 4G”, disse Claudio Mazalli, vice-presidente global de tecnologia da fabricante americana de fibras ópticas Corning, durante painel na Futurecom, evento de telecomunicações e tecnologia realizado esta semana em São Paulo. Segundo ele, apesar do que se imaginava,  a chegada do padrão 5G vai exigir um investimento muito maior em redes de fibra para conectar as antenas. “A transmissão por micro-ondas [redes sem fio usadas em 4G, por exemplo] não funciona no 5G”, disse Átila Branco, diretor de planejamento de redes da Vivo.

O executivo disse que em testes feitos pela Vivo, o consumo de energia com equipamentos 5G chegou a ser 40% maior que em 4G. Além disso, os equipamentos de transmissão são mais pesados - semelhantes a pequenas geladeiras, com 60 a 80 quilos -, o que vai exigir investimentos no reforço das estruturas das antenas para suportar a carga adicional.

Um aspecto que deve ganhar força com a chegada de 5G é o compartilhamento de infraestrutura de rede entre as operadoras. Esse tipo de acordo já existe atualmente, mas, para Branco, com 5G será especialmente importante em regiões de menor viabilidade econômica, como as cidades com menos de 30 mil habitantes.

Para Janilson Bezerra, diretor de inovação da TIM, outros elementos, como centros de dados para processamento de informações mais perto de onde elas são capturadas (o “edge computing”) também podem entrar na lista do que pode ter os custos divididos.

Já Leonardo Finizola, diretor para desenvolvimento de novos negócios da Nokia, opinou que as redes 4G vão financiar os custos das operações de 5G por um período de quatro a cinco depois que elas entrarem em operação - o que deve acontecer entre 2021 e 2022 se o leilão de frequências acontecer em 2020, como previsto pela Anatel. Para Bezerra, a chegada das novas redes e a perspectiva de gerar outros modelos de negócios, além da venda de pacotes de acesso, abre mais frentes para as operadoras.

Na avaliação de Paulo Bernardocki, diretor de produtos e tecnologia da Ericsson, o modelo de leilão não pode ter uma motivação de arrecadação de recursos para o governo, como parece estar caminhando. Sobre possíveis reflexos da guerra comercial entre EUA e China e restrições à participação da Huawei na venda de equipamentos, o executivo disse que o mercado já passou por diferentes ciclos e que a escolha dos fornecedores é um processo comercial e competitivo normal, se houver regras claras e segurança sobre o que está sendo proposto.