O Globo, n. 32707, 23/02/2023. Rio, p. 24

PF abre inquérito para auxiliar no caso Marielle

Alice Cravo


A Polícia Federal abriu um inquérito para auxiliar na investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, que vão completar cinco anos sem solução no próximo mês. Até o momento, o caso era conduzido pela Polícia Civil do Rio, sem colaboração da esfera federal.

No despacho em que a decisão foi anunciada, a PF diz que irá “apurar todas as circunstâncias que envolveram a prática do crime” previamente identificado, além de outros que “porventura forem constatados no curso da investigação”.

Pelas redes sociais, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou ontem que o inquérito amplia a colaboração federal com as investigações sobre a organização criminosa envolvida nos assassinatos e que há um esforço máximo para ajudar no seu esclarecimento.

— A fim de ampliar a colaboração federal com as investigações sobre a organização criminosa que perpetrou os homicídios de Marielle e Anderson, determinei a instauração de inquérito na Polícia Federal. Estamos fazendo o máximo para ajudar a esclarecer tais crimes —afirmou o ministro.

Em sua posse, Dino já tinho dito que era “questão de honra” desvendar o crime:

— Eu digo à ministra (da Igualdade Racial) Anielle Franco (irmã da vereadora) e a sua mãe que vou empreender todos os esforços cabíveis.

STJ vetou federalização

Em maio de 2020, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) de federalização da investigação, que tentava deslocar o caso para a competência da PF. Com isso, a investigação foi mantida na Polícia Civil do Rio.

A abertura do inquérito pela PF não significa a federalização do caso. Em entrevista ao GLOBO, a ministra Anielle Franco afirmou que precisa entender como a PF vai atuar no caso.

— Eu era contra federalizar naquele momento, com aquele governo, com aquelas pessoas que estavam aqui, mas eu não decido sozinha. Tem o comitê,  tem a família. Hoje, se me perguntarem se sou a favor de federalizar, vou falar que sim. Mas não opino sozinha —afirmou.

Anielle também disse ter medo de que o caso não seja solucionado:

— O caso da Mari, para além de quase meia década sem respostas, tem uma situação muito grave, que são as tantas trocas de quem está à frente do caso. Essas diversas trocas mexem muito com a gente. Mexem de uma maneira que a gente pensa: ninguém quer ou está muito difícil e não querem resolver. Ou ainda: realmente é um caso que tem alguma coisa que a gente nunca vai saber.

Duas pessoas estão presas há quase quatro anos pelo envolvimento com o crime: o PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz. Eles foram denunciados pelo Ministério Público do Rio como os assassinos de Marielle e Anderson e vão a júri popular. A data ainda não foi marcada. A polícia tenta ainda entender as motivações do crime, localizar a arma e identificar os mandantes.