Valor Econômico, v. 20, n. 4872, 02/11/2019. Política, p. A9
Hienas, caso Marielle e AI-5 repercutem mal
Carolina Freitas
As controvérsias protagonizadas pela família Bolsonaro ao longo da semana passada tiveram repercussão negativa para o presidente e para seus filhos políticos nas redes sociais. Levantamento feito pela consultoria.MAP a pedido do Valor mostra que as menções de tom negativo ao presidente chegaram a 95% do total na terça-feira, dia 29, quando o “Jornal Nacional”, da TV Globo, apresentou reportagem em que se afirmava que o nome do presidente havia sido mencionado nas investigações a respeito do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, em 2018.
As menções negativas ao presidente já estavam em alta desde a véspera, quando foi publicado um vídeo na conta pessoal do presidente no Twitter em que ele era comparado a um leão, atacado por hienas que representavam uma vasta gama de pessoas e instituições. No dia 28 as desaprovações ao presidente nas redes representaram 65% do total.
A reportagem do “JN”, na noite do dia 29 mostrou que um porteiro do condomínio no Rio onde moram Bolsonaro e Ronie Lessa, suspeito de assassinar Marielle, teria dito em depoimento ao Ministério Público que o homem que dirigia o carro de onde partiram os tiros contra a vereadora, Élcio Queiroz, esteve no condomínio horas antes do crime e teve a entrada liberada por alguém na casa de Bolsonaro, que teria se identificado como o próprio presidente. Bolsonaro, entretanto, estava em Brasília, como a própria reportagem deixou evidente.
A versão do porteiro seria desmentida no dia seguinte pelo Ministério Público, que fez uma auditoria nos arquivos de áudio da portaria do condomínio no dia do crime, mas a reação do presidente na noite da reportagem foi imediata: entrou em uma transmissão ao vivo no Facebook, por 23 minutos e argumentou que a matéria era inconsistente, em meio a ataques ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) e à TV Globo.
Neste dia 29, houve 183,9 mil pontos de impacto mencionando o presidente, sendo 95% negativos. O ponto de impacto é um indicador que combina dados do engajamento que uma publicação provoca com a audiência dos perfis que mencionam um determinado assunto. É uma medida mais qualitativa do que contar menções e permite mensurar a força das citações. A.MAP monitora toda a base do Twitter e uma seleção de páginas públicas do Facebook.
No dia 30, dia em que as inconsistências do depoimento do porteiro ficaram expostas, ainda assim a repercussão em torno do nome de Jair Bolsonaro foi majoritariamente desfavorável, com um total de 641,2 mil pontos de impacto sendo 88% negativos. Isso aconteceu mesmo com o vereador Carlos Bolsonaro tendo ido às redes mostrar registros da portaria do condomínio para defender o pai e com promotoras do MP do Rio concedendo entrevista coletiva em que disseram ter descartado o depoimento do porteiro que mencionou o presidente.
No dia seguinte, 31, quinta-feira, Eduardo Bolsonaro, deputado federal e também filho do presidente, apareceu em entrevista a um canal do YouTube cogitando a reedição do Ato Institucional nº5, a mais dura medida da ditadura militar. Mais uma vez o saldo nas redes foi negativo para o bolsonarismo,, mas a intensidade diminuiu. Foram 481,1 mil pontos de impacto, sendo 63% desfavoráveis ao presidente, ou 305,4 mil.
A.MAP concluiu que o caso de maior impacto foi o da polêmica envolvendo o noticiário sobre o assassinato de Marielle Franco, superando o estrago do caso das hienas e do AI-5.