Título: Sem saber governar
Autor: MARCELO MEDEIROS
Fonte: Jornal do Brasil, 08/11/2004, Opiniões, p. A11

O resultado das últimas eleições mostra que, transcorridos dois anos, o PT ainda não aprendeu a governar. E o que é pior: não se afirmou politicamente.

Os erros começaram na posse do presidente Lula. O candidato mais votado do partido, Aloízio Mercadante, eleito senador com mais de 10 milhões de votos ou 40% dos eleitores do maior estado da Federação, não foi nomeado ministro.

Essa extravagante forma de fazer política afastou Mercadante do Ministério e premiou vários derrotados com cargos de primeiro escalão. Entre eles quatro gaúchos, que, derrotados, emergiram do quinto eleitorado do país.

Também vencido pelas urnas, por mais eminente, combativo e competente que seja, o ex-deputado José Genoino não estava suficientemente amadurecido para assumir a presidência do partido do presidente da República.

Nem o mais votado pode deixar de ser ministro, nem o derrotado pode presidir partido. É o esperado, o elementar em política.

Nomear o ex-deputado Genoino ministro seria mais acertado. Certamente ele não teria obrigado aposentados e pensionistas com mais de 80 anos a comparecer às repartições do INSS para se recadastrar...

Cristóvam Buarque, intelectual do PT, ex-reitor da UNB, ex-governador de Brasília e senador, com 52% do eleitorado de Brasília, ficou poucos meses nomeado ministro da Educação. Foi demitido por motivos fúteis ou ciumeira. Começou assim a derrota do PT nas eleições da semana passada.

Apesar disso, entre as várias explicações para o fracasso petista nas urnas de outubro, destaca-se o aumento dos juros. A elevação da Selic impõe um castigo ao consumidor e emperra o crescimento. Limita investimentos e impede a geração de empregos. Ganham os que têm dinheiro aplicado e sofrem os mais pobres, os excluídos, que ficam à mercê do Bolsa-Família, do Cheque Cidadão e do ineficiente programa Fome Zero. O eleitor reage e dá o troco.

O insucesso do PT nos municípios de São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza é emblemático. Em São Paulo, foram despejados milhões de reais, o governo foi mobilizado, o presidente Lula chegou a ser multado por pedir votos para a sua candidata - fato inédito na República. Em Porto Alegre, além do partido, os quatro ministros gaúchos se engajaram na campanha. Em Fortaleza, a candidata repudiada pela legenda elegeu-se com uma votação jamais alcançada num pleito na capital do estado.

A eleição de 2000 entregou ao PT a administração de 19 milhões de brasileiros, e ao PSDB 16 milhões. Agora o PT vai governar 17 milhões e o PSDB, 25 milhões.

Raul Pont, candidato derrotado para a prefeitura de Porto Alegre, afirma que ''o antipetismo incentivado por setores conservadores somou-se a todos os desalentos com a expectativa de mudança que existia diante da vitória de Lula e não aconteceu''. E vai mais longe: ''É duro reconhecer, mas me cobraram muito o fato de que Lula comprou um avião de 70 milhões de dólares e, depois de se tornar presidente, teria abandonado os trabalhadores. Perdemos nossa identidade.''

Perdendo o PT os grandes centros urbanos e os maiores colégios eleitorais do Brasil, os estados do Sul e a Bahia, o eleitorado da legenda vai emigrar para o PSDB, o PMDB e o PFL.

Se a eleição para a presidência da República, deputados e senadores fosse hoje, a coligação desses partidos elegeria o novo comandante do país e faria a maioria do Congresso.

Não basta ganhar sem saber governar. Fica a lição para o PT.