Título: Angela terá de ceder para governar
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 21/09/2005, Internacional, p. A11
O chanceler Gerhard Schröder, do Partido Social Democrata (SPD), concordou ontem em dialogar ''sem qualquer pré-condição'' para a formação da chamada ''grande coalizão'', entre sua legenda e aliança União Democrata Cristã (CDU) / União Social Cristã (CSU), abrindo caminho para que Angela Merkel se torne a primeira mulher no comando da chancelaria alemã. Pouco antes, Angie recebera um importante respaldo da CDU: a confirmação de seu posto de líder partidária, com 98,6% de votos.
Mas nem tudo é vitória. Fica claro que os conservadores terão que diluir ou abandonar vários projetos de governo se quiserem somar as 222 cadeiras no Parlamento do SPD com as 225 suas, conquistadas nas eleições legislativas de domingo. Entre as questões discutíveis estão a reforma do mercado de trabalho, energia nuclear e política externa.
De certa forma, a ''aliança entre rivais'' já é experimentada há alguns anos em Berlim. A prefeitura do SPD tem que chegar a acordos constantes com os democrata-cristãos, majoritários na Câmara Alta (Bundesrat), onde estão representados os estados. No âmbito federal, as difíceis reformas na Previdência Social lançadas por Schröder em 2003 também têm a marca da CDU.
- A cooperação seria relativamente fácil em certos pontos - destacou o analista político Eckhard Jesse.
Um exemplo é a política fiscal. Tanto o SPD quanto a CDU/CSU querem reduzir impostos sobre os salários e suprimir as isenções tributárias. Mas será difícil para os social-democratas concordar com a elevação do imposto sobre produtos de consumo corrente, conforme quer Angela. Para facilitar as negociações, a CDU fez a primeira concessão: a saída de cena de Paul Kirchhof, ultraliberal especialista em questões fiscais, que ia se tornar o ministro de Finanças de Merkel.
Outra divergência que deve ser trabalhada é o seguro saúde. Os conservadores não vão conseguir impor seu programa de cotas fixas independentes dos salários, uma vez que o SPD luta por um ''seguro cidadão'' calculado sobre os ingressos.
Ainda, os democrata-cristãos que quiserem manter em serviço as centrais nucleares além de 2021 não vão se entender com os social-democratas, claramente mais sensíveis às questões ambientais, desde a coligação com os Verdes, em 1998.
No entanto, a questão turca é a que mais divide os possíveis futuros aliados. Merkel propõe uma ''aliança privilegiada'' da Turquia com a União Européia, Schröder defende uma adesão de pleno direito.
O conflito é especialmente sensível pois o posto de ministro das Relações Exteriores, o segundo cargo na sucessão à chancelaria, é tradicionalmente outorgado ao ''sócio menor'' da coalizão, neste caso, iria para o SPD - crítico da invasão ao Iraque, ao contrário da CDU/CSU.