O Globo, n. 32709, 25/02/2023. Brasil, p. 10

Em um dia, dois ataques do garimpo na terra ianomâmi

Eduardo Gonçalves


Em menos de 24 horas, invasores fizeram dois ataques a autoridades na Terra Indígena Yanomâmi, onde uma megaoperação é realizada pelo governo federal para retirar garimpeiros depois de uma crise sanitária e de subnutrição entre os indígenas. Depois de uma base de fiscalização do Ibama ser palco de um tiroteio na madrugada, policiais militares disseram que também foram atacados no Rio Uraricoera. Seis homens chegaram a ser presos pela PM, mas foram liberados pela Polícia Civil.

Os seis foram presos em um bar perto de uma ponte sobre o Rio Uraricoera conhecido como ponto de embarque e desembarque de garimpeiros ilegais. Com a chegada da PM, quatro pessoas fugiram em uma canoa. Outra embarcação, com três jovens de 26, 25 e 24 anos, foi detida pelos PMs, que também prenderam um homem de 50 anos e outros dois mais novos em uma caminhonete que transportava um quadriciclo e um motor de barco. Mas a Polícia Civil considerou que, como não foram apreendidas armas ou qualquer material de garimpo, “salvo o motor náutico e o quadriciclo”, todos poderiam ser liberados. O ataque de garimpeiros a uma base montada pelo Ibama, Funai e Força Nacional na aldeia de Palimiú, na madrugada de quinta-feira, foi premeditado e tinha o objetivo de retirar toneladas de cassiterita de dentro da Terra Indígena Ianomâmi, segundo o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho.

— As embarcações estavam carregadas até o talo de cassiterita. Eles não queriam perder o produto. Aí, se precisar usar arma de fogo, eles usam. Eles estavam bem equipados — disse Agostinho, que tem acompanhado de perto a megaoperação do governo federal em Roraima. Principal componente o do estanho e conhecido como “ouro negro”, a cassiterita é um dos metais mais procurados hoje na Amazônia. Segundo agentes do Ibama, o grupo de garimpeiros esperou anoitecer para furar o bloqueio montado para evitar a saída de minério extraído ilegalmente da reserva ianomâmi. Os invasores reuniram sete embarcações para passar de uma vez e chegaram atirando contra os agentes do instituto e da Força Nacional que estão acampados na base.

Os garimpeiros também conseguiram arrebentar um cabo de aço de 240 metros que foi instalado no meio do Rio Uraricoera, principal porta de entrada para os garimpos ilegais na reserva indígena. Os agentes revidaram com tiros, mas os invasores conseguiram fugir com seu carregamento. Os garimpeiros estavam a bordo de voadeiras, barcos de 12 metros cada, com motores potentes. O cabo de aço havia sido instalado na segunda-feira para impedir a passagem pelo rio à noite. Sabendo que a fiscalização só acontecia durante o dia por questões de segurança, os exploradores esperaram a madrugada para atravessar a base sem serem incomodados.

Preso no hospital

Um dos participantes do ataque, Gelson Miranda, de 32 anos, foi ferido na troca de tiros e preso pela Polícia Federal. Depois de avisada pelo Ibama, a PF passou a vasculhar os hospitais de Boa Vista e encontrou Gelson no Hospital Geral de Roraima. Segundo o presidente do Ibama, a barreira metálica que havia sido danificada já foi consertada e reerguida de uma margem à outra no rio. Agostinho também já entrou em contato com a Polícia Federal e as Forças Armadas para reforçar a segurança na base.

— Não fomos lá para a guerra, mas a presença do Estado é forte.