Título: Incêndio arrasa o Jardim Botânico
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 21/09/2005, Brasília, p. D1

Mais de 80% do Jardim Botânico de Brasília foram destruídos pelo fogo que atingiu a reserva ontem pelo segundo dia consecutivo. Foram mais de 4 mil hectares queimados no incêndio que é considerado o pior dos últimos 11 anos no Distrito Federal. Até as 21h da noite de ontem, o fogo ainda não tinha sido controlado. Além do Jardim Botânico e da Reserva do IBGE, que foram atingidas na segunda-feira, o fogo chegou ontem à Fazenda Água Limpa, uma área de 4.500 hectares que pertence à UnB e também faz parte das Áreas de Proteção Ambiental do do Gama e Cabeça do Veado. O incêndio, que foi controlado na madrugada de ontem, voltou por volta de 10h. Quase 300 homens do Corpo de Bombeiros, Brigada de Incêndio do Jardim Botânico, Ibama e do Parque Nacional de Brasília foram chamados para combater o fogo. Os homens foram divididos em três frentes principais, e alguns eram levados à locais de difícil acesso de helicóptero.

- A situação é muito preocupante. O acesso dos bombeiros a alguns locais é complicado e o vento está propagando o fogo com muita rapidez - afirmou o tenente-coronel Epaminondas Mattos.

No começo da tarde, os bombeiros fizeram um contra-fogo próximo à área de visitação do Jardim Botânico para impedir que o fogo chegasse ao local. Uma equipe de bombeiros também ficou de prontidão próximo à sede administrativa da Reserva do IBGE, que viu o fogo chegar muito perto.

Apesar de ainda não saber precisar as perdas de fauna e flora provocadas pelo incêndio, os administradores das reservas estão preocupados.

- Nós temos uma perda real de mata nativa, que só poderá ser mensurada quando houver a rebrota. Nos preocupamos com algumas espécies em extinção na flora e fauna, como a arnica, o tamanduá-bandeira, veado mateiro e lobo-guará, que podem ter sido completamente comprometida - afirma a diretora do Jardim Botânico Anajúlia Heringer.

Na Reserva doIBGE, a preocupação é com as inúmeras pesquisas desenvolvidas no local.

- A nossa situação é gravíssima, e um desastre para os pesquisadores de todo o mundo que utilizam a área. Nós temos mais de 61 mil espécies de plantas e animais, é uma área de referência para pesquisas, que podem ter que começar do zero depois de terem todo o seu material destruído - afirmou Walker Moura, chefe do IBGE-DF. Segundo Moura, 35% dos 1.300 hectares da reserva foram destruídos pelo incêndio.

Outra ameaça, dessa vez para os humanos, é de comprometimento das águas do Córrego Cabeça de Veado, resposável por grande parte do abastecimento do Lago Sul.

- Grande parte da mata ciliar foi destruída. Diferentemente do cerrado, essas matas podem nunca se recuperar depois de queimadas. Ainda não podemos prever o tamanho do comprometimento do abastecimento - afirmou Anajúlia.

Apesar do incêndio, a área de visitação do Jardim Botânico, que passou por uma revitalização, será reaberta na sexta-feira.