O Globo, n. 32710, 26/02/2023. Saúde, p. 21

Mais uma dose

Bernardo Yoneshigue


Começa amanhã no Brasil uma nova campanha de vacinação contra a Covid-19. Para determinados grupos, será indicada uma nova dose de reforço com as versões adaptadas das vacinas, as chamadas bivalentes, que ampliam a proteção contra a variante Ômicron. Já para a maior parte da população, os esforços serão concentrados em elevar a adesão à terceira e à quarta dose com os imunizantes originais, que já estão disponíveis nos postos de saúde, porém com a cobertura aquém do desejado. A vacinação no país adaptou-se às novas evidências científicas sobre a duração da proteção e necessidade de doses adicionais. Para tirar dúvidas, o GLOBO conversou com a médica pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai.

O que são as novas vacinas bivalentes?

As vacinas utilizadas desde 2021 são chamadas de monovalentes, pois foram feitas com apenas uma versão do novo coronavírus —a que foi identificada no final de 2019. No entanto, como o SarsCoV-2 evoluiu com o passar dos anos, os laboratórios Pfizer e Moderna desenvolveram novas formulações chamadas de bivalentes. As novas formulações são baseadas em duas versões do vírus, metade com a mesma das doses anteriores, e a outra metade com material da Ômicron, variante que predomina hoje no mundo. Com isso, a proteção é ampliada. —A bivalente é mais atualizada em relação às variantes que circulam no Brasil e no mundo, e tem como principal objetivo dar uma proteção maior, que sabemos que se perde com o tempo e com novas cepas, contra óbitos e hospitalizações. É uma dose de reforço, então as pessoas precisam ter recebido pelo menos duas doses da vacina original antes —explica Ballalai. No Brasil, somente o imunizante adaptado da Pfizer tem aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como reforço para maiores de 12 anos. Porém, a aplicação depende de recomendação e oferta do Ministério da Saúde, que indicou apenas aos grupos considerados de maior risco para agravamento da doença.

Para quem é indicada a vacina bivalente?

No momento, a dose é orientada aos grupos prioritários. Ela pode tanto substituir a terceira ou a quarta dose daqueles que estão atrasados, como ser uma quinta para quem está com o esquema anterior em dia. O intervalo para a aplicação é de quatro meses após a última. O imunizante não será ofertado, ao menos por ora, para a população geral. — Essa decisão foi compartilhada com o comitê técnico assessor em imunizações e é considerada adequada, é o que a maioria dos países fazem até agora. Para a população geral, estar em dia com o esquema atual das vacinas originais já gera uma boa proteção. Não é necessário um reforço a mais além da terceira ou quarta dose já indicadas pelo ministério —diz Ballalai. Os grupos elegíveis para a bivalente, porém, não são os mesmos de etapas anteriores da vacinação contra a Covid-19. Pessoas com comorbidades, por exemplo, não estão contempladas. O mesmo em relação a profissionais da educação.

Quando posso tomar a vacina bivalente?

Aqueles elegíveis para receber a bivalente totalizam 52 milhões de brasileiros, segundo estimativas do Ministério de Saúde. De acordo com o cronograma de entregas da Pfizer, 38 milhões de doses da vacina já foram enviadas ao Brasil, e mais 10 milhões devem chegar até junho. A vacinação será escalonada em etapas, de acordo com o envio das doses aos estados e com o recebimento das novas levas pela Pfizer (veja acima quadro com os grupos contemplados).

Como estados e municípios podem implementar seus próprios calendários, é importante checar as datas e os grupos divulgados pelas secretarias de Saúde.

A população geral receberá a dose bivalente?

Em alguns países, como Chile e Estados Unidos, a bivalente é indicada à população geral. Porém, não há planos para que pessoas de fora dos grupos de risco, como as abaixo de 60 anos, recebam a nova dose no Brasil. Ainda assim, a população geral também é alvo da nova campanha devido às baixas coberturas com a terceira e a quarta dose. Segundo dados da Rede Nacional de Dados de Saúde (RNDS), compilados pela pasta, são cerca de 60 milhões de brasileiros sem o primeiro reforço. O ministério indica o esquema de três aplicações para todos com mais de seis meses de idade, ou seja, também crianças e adolescentes. Já a quarta dose é para aqueles a partir de 40 anos.

— Essas pessoas que não vão receber a bivalente, como crianças, jovens e a maior parte dos adultos, precisam estar com os reforços previstos atualizados. Hoje mais de 90% das pessoas que morrem são as que não estão adequadamente vacinadas com todas as doses indicadas —explica a médica.

Haverá quinta dose para a população geral?

Há dúvida se será indicada uma nova dose (que para a maioria das pessoas seria a quinta) do imunizante original. Ballalai afirma que isso é alvo de debate, mas ainda não foi decidido.

— Em algum momento pode acontecer sim. Mas em relação à possibilidade de uma vacinação anual, como a da gripe, ainda precisamos acompanhar mais a evolução do vírus da Covid-19 para entender — diz.

Estou com a dose atrasada, o que fazer?

A diretora da SBIm explica que aqueles dos grupos indicados a receber a vacina bivalente devem aguardar sua vez, mas os demais devem atualizar imediatamente a caderneta. — Quem faz parte dos grupos de risco deve aguardar um pouco para receber diretamente a bivalente. No entanto, os que não fazem parte desses grupos, e estão com dose atrasada, devem atualizar o esquema com a vacina disponível o quanto antes —orienta.