Valor Econômico, v. 20, n. 4872, 02/11/2019. Valor Investe, p. C8

Consultório Financeiro: Quando a taxa de administração é um problema na renda fixa

Bruno R. Pereira



Li um artigo falando que, com a queda dos juros, as taxas de administração dos fundos ficaram altas. Tenho fundo de renda fixa e fiquei em dúvida: com juros tão baixos faz sentido pagar 1% de taxa de administração?

Bruno R. Pereira, CFP, responde:

Prezado leitor, com a queda recente dos juros no Brasil que, pelo que tudo indica, veio para ficar, os custos fixos têm tido um peso cada vez maior no retorno final dos investimentos.

Na maior parte de 2016, a Selic ficou em 14,25%. Se já tivesse esse fundo, a taxa de administração de 1% representava cerca de 7% do CDI. Com a taxa básica atual, você está pagando quase 17% do CDI para o mesmo serviço.

É preciso entender um pouco melhor as modalidades de fundos para então chegarmos à conclusão se vale a pena ou não pagar essas taxas aos gestores. Vamos concentrar nossa análise na categoria de renda fixa.

Segundo a classificação da CVM existem quatro tipos de fundos nessa categoria - renda fixa curto prazo, renda fixa referenciado, renda fixa simples e renda fixa dívida externa. Já pela classificação da Anbima, que é uma associação de entidades do mercado financeiro e de capitais, existem categorias baseadas no tipo de gestão (ativa ou passiva) e na sensibilidade às alterações nas taxas de juros, e subcategorias, divididas em função da exposição a risco de crédito (soberano, grau de investimento e crédito livre). Com essa distinção feita, fico mais confortável em dar a resposta se ainda vale a pena pagar 1% de taxa de administração. Na minha opinião, a resposta é: depende.

Caso estejamos falando de um fundo de renda fixa de crédito estruturado ativo com objetivo de superar o índice de referência e que invista em empresas com risco de crédito não trivial como multinacionais conhecidas do grande público e empresas de capital aberto, a taxa de administração de 1% ao ano pode até fazer sentido, desde que o retorno líquido compense o risco que você está tomando. Para manter uma equipe de analistas que acompanham diferentes setores e emissões de dívidas, o gestor tem um custo e é natural que ele seja remunerado por esse serviço.

Por outro lado, caso o seu fundo de renda fixa seja um fundo passivo que tenha o objetivo apenas de acompanhar algum índice de referência, como, por exemplo o CDI - ou até um fundo de renda fixa ativo, com objetivo de superar o índice, mas de classificação Anbima de “baixa duração grau de investimento”, que se limita a investir 80% da carteira em títulos públicos e ativos de baixo risco de crédito -, a taxa de 1% não vale a pena, já que o escopo de atuação do gestor é mais limitado. Para fundos com esse propósito, já há opções que não cobram taxa de administração.

Embora para a diminuição de taxa o processo seja bem simples, pois o administrador não precisa convocar uma assembleia para reduzir taxas, não é tão comum que isso aconteça no mercado, pois isso implica queda direta na receita dos administradores e gestores de fundos. O mais comum é que novos fundos sejam criados com taxas mais competitivas e, por isso, é muito importante que você e seu planejador estejam atentos a essas mudanças no mercado.

Com o novo patamar dos juros e a sofisticação do mercado, que oferece inúmeras opções de investimento, é importante que tenha a ajuda de um profissional autorizado para atualizar seus investimentos e adequá-los aos seus objetivos pessoais de curto, médio e longo prazo.

Bruno R. Pereira é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejadores Financeiros E-mail: bruno.pereira@maestrocapital.com.br

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