Título: Sinal amarelo para saldo comercial
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 08/11/2004, Economia, p. A17

Aumento das importações e queda dos preços das commodities preocupam analistas

A balança comercial vive um ano de recordes. A meta de US$ 32 bilhões no saldo comercial está próxima, assim como é bastante provável que o país atinja o recorde de exportações de US$ 94 bilhões em 2004. Mas o resultado do mês de outubro, divulgado na última quarta-feira, acendeu a luz amarela em relação ao desempenho das vendas externas em 2005. As exportações fecharam o mês passado em US$ 8,843 bilhões, alta de 34,4% em relação a outubro de 2003, mas marcou a terceira queda consecutiva das vendas externas neste ano, na comparação com o mês anterior. De acordo com Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), as exportações devem encerrar 2004 com crescimento em torno de 30% na comparação com o ano passado. Para ele, no entanto, este ritmo de avanço deve começar a diminuir a partir de agora.

- Os preços dos produtos exportados pelo Brasil atingiram o pico em junho e já estão caindo. Mesmo assim, em 2005 as exportações devem crescer cerca de 15% - afirma Ribeiro.

O economista revela ainda que o impacto da queda dos preços internacionais deverá afetar apenas em parte as vendas brasileiras, já que o volume exportado segue em expansão.

- Este ano, por volta de 60% da alta das exportações têm relação com a quantidade vendida - explica.

Mas 2004 também foi um ano de alta dos preços. Os valores dos produtos básicos exportados pelo Brasil subiram 22% até setembro, ante os primeiros nove meses do ano passado. Os semimanufaturados ficaram 12% mais caros e os manufaturados, menos voláteis, aumentaram 6%.

No caso das commodities agrícolas, os preços já começaram a cair na comparação com o ano passado. Análise da consultoria Tendências sobre dados da Secretaria de Comércio Exterior, revela que o complexo soja contribuiu com US$ 540 milhões a menos nas exportações em outubro - na comparação com setembro.

- Esse resultado foi efeito dos preços, que já caíram muito. Mas o impacto deve ser pequeno na balança, já que os agricultores vão tentar aumentar a quantidade exportada para manter a receita - diz Amaryllis Romano, economista da consultoria, acrescentando que os preços voltaram ao patamar histórico médio, mas não devem registrar quedas fortes no futuro.

Outro aspecto que surpreendeu na balança comercial de outubro foi a forte alta das importações, que subiram 33,4% em outubro, em relação a igual mês de 2003, e bateram o recorde de US$ 5,836 bilhões. As compras no exterior seguem crescendo desde julho - quando foram importados US$ 5,509 bilhões - puxadas pela recuperação do mercado interno.

Mas as importações em alta não chegam a assustar os exportadores. Segundo Roberto Segatto, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), os bens de consumo respondem apenas por algo em torno de 15% da pauta de importados, enquanto as matérias-primas, peças e máquinas somam mais da metade do total. Estes percentuais estão de acordo com estudo realizado pela instituição este ano, que indicava que, entre 2004 e 2005, o Brasil precisaria investir cerca de US$ 100 bilhões em máquinas e equipamentos, dos quais 70% deveriam vir de fora do país.

- Isso se concretizou. A utilização da capacidade instalada está alta e mostra que o empresário está modernizando seu parque industrial, contribuindo inclusive para a produção de bens que serão exportados - ressalta.

Por conta do reaquecimento interno, a Tendências estima que o saldo comercial em 2005 fique ao redor de US$ 24 bilhões, levando-se em conta um quadro com crescimento de 4%.

- A diversificação da pauta é um grande aliado do Brasil. O único senão é a queda da demanda externa, que pode ser afetada pela alta do petróleo. Mas o efeito ainda não se confirmou.