Valor Econômico, v. 20, n. 4873, 05/11/2019. Política, p. A7

Bolsonaro exonera presidente da Funarte

Fabio Murakawa
Matheus Schuch 



O presidente Jair Bolsonaro demitiu ontem o presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Miguel Proença, visto no Palácio do Planalto como uma pessoa não alinhada às políticas da atual gestão. Por razões semelhantes, o general Maynard Marques de Santa Rosa pediu demissão da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), ligada à Secretaria-Geral da Presidência. Segundo interlocutores, havia “falta de alinhamento” entre ele e o titular da pasta, ministro Jorge Oliveira.

O mais cotado para substituir Proença até ontem era o dramaturgo Rodrigo Alvim, alinhado ao bolsonarismo. Seu nome, porém, enfrenta a resistência do ministro da Cidadania, Osmar Terra, a quem seria subordinado.

Enquanto Alvim tenta capitalizar-se a partir da boa relação que tem com Bolsonaro, o ministro articula um nome alternativo para comandar a Funarte. O temor de Terra é que a ambição do dramaturgo, somada à convergência ideológica com o presidente, o tornem uma pessoa difícil de controlar na pasta. Alvim ocupa atualmente o posto de diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte.

Até o momento, mesmo em um cargo de menor expressividade, o dramaturgo conseguiu desagradar parte dos colegas de Cultura. A avaliação de interlocutores do ministro é que os casos de desgaste com Alvim podem aumentar se ele conquistar mais poder na Esplanada.

Embora tente fazer prevalecer sua vontade, Terra tem consciência de que o Planalto exige influência direta em sua pasta. Bolsonaro já enviou diversos recados. Um deles terminou com o pedido de demissão do então secretário especial de Cultura, Henrique Pires, resignado com a ingerência sobre a política de fomento à produção audiovisual, a partir da Ancine.

Também incomoda Terra o fato de Alvim, integrante do terceiro escalão, despachar diretamente com Bolsonaro. Até mesmo os secretários da pasta, que comandam as áreas de cultura, esporte e políticas sociais são desestimulados a terem audiências particulares com o presidente.

Em seu briefing diário, o porta-vos da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, confirmou que Bolsonaro influenciará na escolha do novo presidente a Funarte.

“O presidente, por considerar essa uma área extremamente importante para a consolidação não apenas da cultura, mas dos princípios basilares sobre os quais ele militou ao longo da campanha, ele tem uma preocupação direcionada e vem conversando com o ministro daquela área para juntos poderem consolidar a próxima indicação”, afirmou.

No Palácio do Planalto, até a noite de ontem, não havia uma confirmação oficial da demissão de Santa Rosa da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).

Fontes afirmam, no entanto, que ele entregara o cargo pela manhã ao ministro Jorge Oliveira. Em um evento no Palácio do Planalto, Oliveira se esquivou de responder sobre a saída do auxiliar.

Segundo fontes, o general Santa Rosa não tinha um bom relacionamento com o ministro, um dos aliados mais próximos do presidente Jair Bolsonaro.

Um interlocutor de Oliveira afirma que a razão da demissão é o “não alinhamento” do general às diretrizes do ministro. “Queria seguir carreira solo”, afirmou. “Ele não respeitava o ministro porque é general.