Valor Econômico, v. 20, n. 4873, 05/11/2019. Política, p. A8

Maia diz que Heleno se tornou um “auxiliar do radicalismo de Olavo”

Marina Falcão
Fabio Murakawa
Marcelo Ribeiro



O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez ontem duras críticas ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, dizendo que ele se tornou um “auxiliar do radicalismo de Olavo de Carvalho”, o guru do bolsonarismo. Aconselhado por auxiliares, Heleno resolveu não responder.

A declaração de Maia foi uma reação ao suposto endosso feito pelo ministro às declarações do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro. Eduardo defendeu “um novo AI-5” caso a esquerda radicalize no Brasil a exemplo do que, em seu entender, ocorre no Chile.

Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Heleno afirmou que “se [Eduardo] falou, tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir” a edição de um novo AI-5.

Na mesma entrevista, o ministro critica o Congresso, citando a resistência ao pacote anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro, entre os parlamentares. “Fazem de tudo para não passar”, disse.

Essa menção em especial parece ter irritado Rodrigo Maia. Durante viagem ao Recife, o presidente da Câmara citou um pedido de convocação de Heleno feito pela oposição para que ele explique as declarações.

“Tem um pedido de convocação para ele [Heleno] na Câmara. Acho que a frase dele foi grave. Além disso, ainda fez críticas ao Parlamento, como se o Parlamento fosse um problema para o Brasil”, afirmou. “Infelizmente, o ministro Heleno virou auxiliar do radicalismo do Olavo. É uma cabeça ideológica. Uma pena que um general da qualidade dele tenha caminhado nessa linha".

Questionado pelo Valor nos corredores do Planalto, Heleno disse que não responderia ao presidente da Câmara. Ao longo do dia, ele cogitou publicar uma nota em resposta a Maia. Foi demovido da ideia por auxiliares, que o aconselharam a não alimentar a polêmica.

Segundo interlocutores, Heleno estava “mais irritado com a maneira como suas declarações foram publicadas do que com Maia”. Eles afirmam que o ministro não havia visto as declarações de Eduardo e, no momento da entrevista, entendeu tratar-se de uma suposta fala do presidente Bolsonaro.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) protocolou na sexta-feira um pedido para que Heleno seja convocado a comparecer ao plenário da Câmara a fim de prestar esclarecimentos sobre as declarações relacionadas ao AI-5.

Para que o auxiliar de Bolsonaro seja convocado, o requerimento precisa ser aprovado pela maioria simples dos deputados. Ainda que Silva seja próximo de Maia, parlamentares do Centrão afirmaram que não há nenhuma articulação em andamento para garantir que o requerimento seja apreciado pelo plenário da Casa nesta semana. Isso deve ser decidido na reunião de líderes marcada para hoje.