Título: Manifestantes são agredidos e presos na Casa
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 22/09/2005, País, p. A3

Um tumulto na galeria do plenário da Câmara quebrou o silêncio dos deputados que ouviam, com particular frieza, o fim do discurso de despedida do agora ex-presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE). Assim que terminou de anunciar a renúncia ao mandato, um constrangido Severino escutou um grito vindo da galeria. ¿ Cai fora, Severino. Já vai tarde ¿ berrou a professora de sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Wilma Pessoa.

Ela foi ao Congresso em um grupo de professores e estudantes universitários protestar contra a corrupção e pedir mais recursos para o ensino superior. De imediato, o presidente interino da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), mandou a segurança da Casa esvaziar as galerias do plenário. E deu início à confusão.

¿ Quanto mais Severino falava, mais eu me indignava. O que falei foi o grito que estava entalado na garganta de todos que assistiram a essa onda de escândalos ¿ disse Wilma.

Com todas as atenções voltadas para o que acontecia na galeria, Severino se retirou despercebido por trás da mesa do plenário, pelo acesso reservado aos parlamentares. Estava acompanhado de sua mulher, Catarina Amélia, que assistiu o discurso do lado esquerdo do plenário, junto a outros familiares.

Enquanto isso, na galeria, a segurança da Câmara reagia com violência à manifestação dos estudantes. Os ânimos já estavam alterados antes do discurso, quando os universitários tentaram entrar na galeria com faixas de protesto e foram barrados. Depois de muito bate-boca, puderam entrar e permaneceram em silêncio até o final do pronunciamento.

Eles se revoltaram com a ordem de esvaziamento da galeria e foram impedidos pelos seguranças de exibir uma faixa com os dizeres ¿Corrupção é igual a falta de educação. Mais verbas para o ensino público¿. Em seguida foram retirados à força do local pela segurança, que tentou barrar a passagem de repórteres. Alguns deputados tentaram acalmar os ânimos e conversar com os universitários.

¿ Foi um abuso de força, uma coisa lamentável ¿ comentou o deputado Chico Alencar (PT-RJ), enquanto conversava com o estudante de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB) Guilherme Pamplona, que teve seu braço quebrado pelos seguranças. Outros três estudantes foram detidos e depois encaminhados para o Instituto Médico Legal para exame de corpo de delito. (K.C.)