Valor Econômico, v. 20, n. 4875, 07/11/2019. Brasil, p. A4

Pobreza extrema no Brasil atinge maior nível em 7 anos, diz IBGE

Juliana Schincariol
Alessandra Saraiva
Rafael Rosas


A crise econômica que se acentuou em 2015 fez o Brasil terminar o ano passado com 13,5 milhões de pessoas em condição de extrema pobreza. O contingente é o maior da série histórica, iniciada em 2012,e indica que 6,5% da população brasileira vive com menos de R$ 145 por mês - o equivalente a US$ 1,90 diário por paridade de poder de compra (PPC). Em 2017, eram 13,3 milhões de pessoas., segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A crise também cobrou seu preço no mercado de trabalho, com avanço da informalidade e da desigualdade da renda, com efeitos sobretudo para os mais pobres, mulheres, pretos e pardos.

Os critérios de extrema pobreza são os definidos pelo Banco Mundial, e o IBGE ressalta que os 13,5 milhões de brasileiros nessa situação significam um contingente maior que a população de países como Bolívia, Bélgica, Cuba, Grécia e Portugal. Desde 2014, mais 4,5 milhões de pessoas passaram a viver sob estas circunstâncias.

“A linha de extrema pobreza mostra uma queda entre 2012 e 2014 e, desde então, registra um crescimento, chegando em 2018 no maior valor da série, sem uma variação significativa em relação a 2017”, disse o gerente do estudo, André Simões. 

Em 2012, no início da série história, o percentual da população que vivia com menos de US$ 1,90 por dia era de 5,8%, caindo para 4,5% em 2014, o menor patamar até então. A partir de 2015 passou a subir, chegando a 6,5% no ano passado - mesmo patamar de 2017.

Simões lembrou que esse grupo necessita de cuidados maiores como políticas públicas de transferência de renda e de dinamização do mercado de trabalho. Hoje, o valor do indicador de pobreza do Bolsa Família é R$ 89. Em 2011, era de R$ 70, compatível com o valor global da época para definir a extrema pobreza, de US$ 1,25 por dia.

“Não adianta a economia ser uma locomotiva a velocidade de cruzeiro. É preciso conectar os vagões dos mais pobres”, afirmou o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, citando, por exemplo a necessidade de se pensar o Bolsa Família com inclusão produtiva dos mais pobres.

O trabalho do IBGE identificou que 1 milhão de pessoas deixaram a linha de pobreza - rendimento diário inferior a US$ 5,50, medida adotada pelo Banco Mundial. No entanto, apesar do recuo, significa que 1 em cada 4 brasileiros ainda vivia com menos de R$ 420 per capita por mês.

No ano passado, a parcela de empregados formais na população ocupada mostrou menor nível em sete anos. Ao mesmo tempo, a fatia de trabalhadores sem carteira assinada e de empregados por conta própria mostrou maior nível no mesmo período. Para o instituto, a

inclusão de mais trabalhadores sem carteira ou por conta própria sinaliza que o mercado de trabalho no país “tende a se tornar mais informal”. Em 2018, ano em que o país ainda caminhava para sair da crise econômica iniciada em 2015, a fatia de empregados com vínculo formal de trabalho na população ocupada ficou em 47,4%, o mais baixo resultado em sete anos. Em 2012, essa parcela era de 50,3%.

Segundo o IBGE, até 2015, houve redução da desigualdade da renda do trabalho. A razão entre o rendimento médio de todos os trabalhos dos 10% com os maiores rendimentos e os 40% com os menores rendimentos era de 12% naquele ano - ante 12,9% em 2012. Em 2018, porém, essa proporção saltou para 13%, resultado mais alto da série.