Título: Ladeira abaixo em todas as classes
Autor: Kelly Oliveira e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 22/09/2005, País, p. A7

A confiança no presidente Luiz Inácio Lula da Silva que se mantinha em patamares elevados até junho, chegou a seu pior nível desde o início do governo, segundo a 11ª rodada da pesquisa do Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem. Pela primeira vez, o presidente Lula e o seu governo têm um índice de desaprovação maior em todas as camadas da sociedade. De junho para cá, o índice de confiança no presidente caiu de 50% para 44%, o menor desde a posse. Já o percentual de entrevistados que disseram não confiar no presidente passou de 38%, em junho, para 51%. A pesquisa da CNI/Ibope é realizada desde a posse do presidente há cada três meses e revelou que o fator decisivo para a piora na percepção dos eleitores é o conjunto de denúncias que atingem o governo. Pela primeira vez, em diversas avaliações do governo, houve mais opiniões desfavoráveis do que favoráveis e a população revelou preocupação com a contaminação da economia pela crise política. Dos entrevistados, 40% dizem que a economia será afetada negativamente pela crise política.

¿ A avaliação do governo foi afetada pelo aumento do conhecimento da crise ¿ afirmou o diretor de operações da CNI, Marco Antonio Guarita.

A um ano das eleições, 50% dos brasileiros que votaram no presidente Lula no 2º turno de 2002 não repetiriam o voto hoje. A pesquisa aponta que desaprovação ao governo Lula foi mais intensa no segmento feminino, entre a população jovem, no segmento de escolaridade com ensino médio, no Sudeste, na periferia e entre a população com renda de cinco a dez salários mínimos. O número de eleitores que consideram o governo ruim ou péssimo passou de 22% em junho desse ano para 32%. Já o percentual dos que consideram o governo ótimo ou bom caiu de 35% para 29%.

O Ibope também revela maior decepção de todos os segmentos com a atuação do governo. Dos entrevistados, 44% disseram que o governo está pior do que o esperado, enquanto 23% consideram melhor. Na pesquisa anterior os percentuais eram de 34% e 31%, respectivamente.

A queda na avaliação atingiu ainda uma das principais bandeiras de Lula durante as eleições de 2002. Pela primeira vez, desde o início da série, a desaprovação quanto à atuação do governo no combate à fome e à pobreza superou o percentual de aprovação ¿ 52% desaprovam e 43% aprovam. No caso de programas sociais nas áreas de educação e saúde, a pesquisa registra ligeira melhora na aprovação, 50% em setembro, contra 49%, em junho.

Os motivos que levaram à essa queda na popularidade estão bem frescos na memória dos entrevistados. Nas menções espontâneas dos eleitores os fatos noticiados mais lembrados foram a acusação de que o PT pagava mesada para parlamentares (28%) e a de corrupção nos Correios (21%). As denúncias envolvendo Severino Cavalcanti também foram lembradas em terceiro lugar, com 10% e a revelação de que o PT usou caixa dois para pagar campanhas eleitorais foi lembrada por 9% dos entrevistados. As acusações envolvendo o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, ficaram em segundo plano, mencionadas por apenas 3% dos entrevistados.