Título: Daniel Dantas entra em contradição
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 22/09/2005, País, p. A8
O banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity, entrou em contradição ao prestar depoimento aos parlamentares das CPIs do Mensalão e dos Correios. Protegido por uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), que permitia a ele não responder a perguntas que pudessem incriminá-lo, Dantas frustrou a expectativa dos parlamentares que esperavam revelações sobre o mensalão e o esquema de corrupção envolvendo o PT. As pressões políticas, disse o empresário, aconteceram no governo anterior. ¿ Não éramos nós a fonte de recursos que estava alimentando o mensalão.
Os deputados e senadores queriam detalhes sobre os R$ 150 milhões, que as telefônicas ligadas ao Opportunity, principalmente a Telemig Celular, injetaram nas empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão.
Dantas alegou que os administradores é que decidem sobre publicidade, um assunto que, segundo ele, não passa pelos controladores. Em menos de uma hora de depoimento, Dantas entrou em contradição e admitiu ter escolhido o publicitário Duda Mendonça para gerir a propaganda da BrasilTelecom.
Dantas também entrou em contradição ao dizer que não conhece o relatório da Kroll Associates, empresa contratada para espionar supostos desafetos do banqueiro, inclusive autoridades do governo. No apartamento de Dantas, no Rio, a Polícia Federal apreendeu em outubro um relatório confidencial da Kroll sobre políticos do governo anterior, o Banco do Brasil e o BNDES. O banqueiro responsabilizou a BrasilTelecom pela contratação da Kroll. Notas fiscais recolhidas pela PF mostram que a conta da Kroll foi paga pela Telemig Celular e pela BrasilTelecom.
No início de depoimento, Dantas falou sobre uma reunião na Casa Civil, com o então ministro José Dirceu. O banqueiro também relembrou outras duas reuniões com o ex-ministro, mas afirmou que Dirceu e o PT nunca pediram dinheiro a ele e não houve tentativa de achaque.
O banqueiro disse que procurou o ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb, a pedido de Dirceu, e ouviu o pedido, ¿em nome do governo¿, para que o Opportunity ¿abrisse mão de direitos¿ na disputa com os fundos pela BrasilTelecom. Segundo o banqueiro, não há evidência de interferência de Dirceu nesta operação.
A explicação de Dantas sobre uma das reuniões com Dirceu não convenceu nem os parlamentares da oposição. O banqueiro afirmou que recebeu telefonema da Casa Civil confirmando uma audiência que ele não havia solicitado com o então ministro. O banqueiro afirmou que ¿pressupôs¿ que Dirceu queria a reunião e o encontrou em Brasília.
¿ Essa história está mal explicada, senhor Dantas ¿ afirmou o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
Dantas apresentou detalhes das pressões que recebeu no governo de Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, houve uma ¿sucessão de tentativas de controle¿ da BrasilTelecom pela Telecom Itália, ¿com apoio dos fundos e de alguns integrantes do governo¿. Ele acusou Pimenta da Veiga, então ministro das Comunicações, e Andrea Calabi, ex-presidente do do BNDES, de serem as autoridades que trabalharam a favor da Telecom Itália. O banqueiro também revelou detalhes da compra da Companhia Riograndense de Telecomunicações pela BrasilTelecom, também no governo anterior. Ele teria se recusado a pagar um ágio de US$ 200 milhões. Por isso, passou a receber pressões dos fundos e do governo.
Dantas afirmou que só viu Marcos Valério uma única vez e que nunca foi apresentado a Delúbio Soares. Na agenda de Valério constam reuniões com sócios de Dantas.
Dantas disse que tentou encontro com o ex-secretário Comunicação e Gestão Estratégica Luiz Gushiken, sem sucesso. Ele sugeriu que Gushiken teria interferido na compra da Embratel, mas admitiu que não tem conhecimento do envolvimento do ex-ministro com os fundos de pensão.
O banqueiro se recusou a dar explicações sobre as contas de doleiros que aparecem nas transações com o Opportunity Fund, entre elas a Depolo Corporation, de Dario Messer.
¿ O que é Depolo? ¿ peguntou Dantas.
Os parlamentares queriam detalhes sobre os negócios do filho do presidente Lula, Fábio, com a BrasilTelecom. Dantas afirmou que a Brasil Telecom tentou fechar negócio, sem sucesso, com a Gamecorp, empresa de Fábio. Segundo ele, a BrasilTelecom pagou ¿algumas refeições¿ para o filho de Lula no Japão, mas não as passagens. A liminar do STF para que Dantas não fosse obrigado a responder às perguntas da CPI irritou parlamentares.
¿ Se pede um habeas-corpus para não se incriminar, é porque há motivos para sua incriminação ¿ afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).