Título: Novo pesadelo ronda EUA
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 22/09/2005, Internacional, p. A9

Três semanas depois da devastação causada pelo Katrina no litoral da Louisiana, Alabama e Mississippi, um novo furacão provoca a retirada de 1 milhão de moradores do Texas. Com ventos de 265 km/h e já como categoria 5 - a mais alta da escala Saffir-Simpson -, a tempestade Rita avança com violência pelo Golfo do México, rumo à costa texana. Há uma semana, o ciclone passou, mais fraco, em Florida Keys e Cuba, sem deixar vítimas.

A situação mais sensível é a dos próprios refugiados da Louisiana, desabrigados pelo Katrina, que matou pelo menos 1037 pessoas. Cerca de 1.100 americanos alojados no estádio Astrodome, em Houston, terão que ser novamente retirados, desta vez para o Arkansas e Tennessee. A cidade costeira texana de Galveston também será completamente esvaziada.

- Estou a ponto de me suicidar - desesperou-se Alicia Baxter, ex-moradora de Nova Orleans, ex-abrigada no Astrodome, em Galveston, há uma semana.

Segundo o Centro Nacional de Furacões (NHC), em Miami, o mais provável é que o Rita chegue em terra pelo Texas, em algum ponto entre Galveston e Corpus Christi. Mas não se descarta que possa fazê-lo pelo Oeste da Louisiana.

- Em terra, o furacão pode ter ventos de 254 km/h, similares aos do Katrina - advertiu o meteorologista do NHC, Lixion Avila.

Diante do alerta, o presidente dos Estados Unidos, George Bush, fez questão de pedir pessoalmente à população da costa do Golfo do México que cumpra a ordem de retirada:

- Devemos nos preparar para o pior.

Muito criticadas pela lenta resposta diante do desastre de 29 de agosto, autoridades federais e locais tentavam ontem organizar a retirada dos habitantes. O prefeito de Houston, Bill White, pediu que todos os residentes das partes baixas da cidade deixem suas casas. Mais de 800 ônibus foram colocados à disposição da população de baixa renda nas possíveis áreas a serem afetadas, ao contrário do que aconteceu em Nova Orleans - a maioria das vítimas do furacão foi de negros e pobres, que não tiveram condições de deixar a capital estadual.

Também na Louisiana foi declarado estado de emergência. Ainda inundada pelas chuvas do Katrina, Nova Orleans é considerada especialmente vulnerável ao Rita. Dois ônibus lotados retiraram os moradores e outros 500 estão prontos para a viagem.

- Estamos muito mais espertos desta vez. Aprendemos várias lições duras - admitiu o prefeito, Ray Nagin.

De Washington, o secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff, afirmou que as autoridades estão checando suprimentos e sistemas de comunicação e convencendo moradores a saírem das zonas em risco. O governo enviou ao Texas 5 mil homens da Guarda Nacional e 11 helicópteros para a assistência.

As petrolíferas Shell e BP mandaram evacuar todo seu pessoal das plataformas no Golfo. O temor de que a tormenta atinja também 13 refinarias em terra no Texas - o maior produtor de óleo cru dos EUA, responsável por 23% da capacidade - fez o preço do petróleo subir. A qualidade ''light sweet'', para entrega em novembro, registou alta de US$ 1,25, com o barril a US$ 67,25 em Nova York. Em Londres, o preço do Brent aumentou US$ 0,95; o barril saía a US$ 65,15. Os EUA deixarão de produzir 429 mil barris de óleo cru (75% da produção do Golfo) por cada dia que as instalações no rastro do Rita ficarem fechadas.

Muito criticado pela falta de agilidade quando o Katrina passou, o Itamaraty anunciou ontem que os consulados de Houston, Miami e Havana já estão em alerta e podem ser contatados para a localização de brasileiros.