Título: Corrupção e marxismo
Autor: Ives Gandra Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 22/09/2005, Outras Opiniões, p. A11

Galbraith, em seu livro A era da incerteza, lembra que ''Alemanha, França e Bélgica se uniam na crença de que Marx era um excelente cidadão para outro país qualquer''. Em seus escritos, fantasticamente citados e pouco lidos, sempre pregou a disseminação do ódio entre as classes e, nada obstante seu indiscutível talento para amalgamar teorias dos que lhe antecederam - como do genial Proudhon -, sua visão do mundo nunca se realizou e jamais se realizará, porque ignora a essência do homem. Na teoria do materialismo histórico, por ele concebida - segundo a qual o homem caminha inexoravelmente para um paraíso final, quando os trabalhadores conseguirem eliminar os ''empresários, exploradores de sempre'' - partiu do princípio de que esse paraíso futuro justificaria todos os meios, éticos ou aéticos, para a supressão da classe dominante e da religião, que considerava o ópio do povo.

De rigor, as escolas espiritualistas da interpretação histórica são estupendamente mais liberais e modernas do que as materialistas, inspiradas nas idéias de Marx, pois as primeiras acreditam e asseguram ao homem o livre arbítrio, e as segundas não lhe dão outra alternativa, senão a de cumprir o determinismo histórico, que Marx idealizou. O que entendo importante, todavia, realçar, no momento político que o país atravessa, é que, nas lições marxistas, os fins tudo justificam. Os meios mais variados são admitidos, não sendo a ética o elemento essencial para atingir os objetivos colimados. Tudo vale para eliminar os inimigos do povo, ou seja, todos aqueles que não pensam como os marxistas.

A política brasileira está repleta de integrantes de uma esquerda que segue a cartilha marxista. Acreditam em tudo o que seu mestre escreveu e agem de acordo. Bradam pela ética quando estão na oposição mas, no poder, não se pautam por ela. Não hesitam, na busca dos fins esculpidos por sua ideologia, em romper com todos os valores da democracia ocidental. Acham mais fácil invadir terras produtivas, estuprando a Constituição, o Código Civil e o Código Penal, do que conquistá-las, como todo cidadão brasileiro, dentro da lei. Por isto não têm coragem de fazer o ''teste'' das urnas. Para os que o fazem, o que mais importa é tomar o poder para realizar os ideais da esquerda marxista.

Nas democracias modernas, o poder conquistado pelo voto popular acaba sendo exercido em coalizão com os partidos mais votados, com o que a representação popular torna-se autêntica. Já a esquerda marxista, quando, disfarçando sua anacrônica ideologia, consegue alcançar o poder pelas urnas, recusa-se a partilhá-lo. Se não houver maioria, compram-se os aliados! Mais do que isto partido e governo são a mesma coisa.

Por outro lado, como entendem que aquilo que consideram bom para o país é uma verdade absoluta, os líderes marxistas não se sentem obrigados a prestar contas. Não se consideram antiéticos ou aéticos, porque, na sua visão, como os meios são justificados pelos fins, corromper é apenas uma forma de manter o poder não dividido.

No Brasil, começa-se a perceber que os guerrilheiros do passado, que pegaram em armas para substituir o regime militar por um regime marxista e não foram bem sucedidos, ao conseguirem o poder, nos dias atuais, preferiram aliciar aliados com mensalões ou Caixa 2, a governar com a maioria. Nesta linha de ter o poder absoluto, procuraram eliminar os direitos do cidadão, sufocando sua voz, mediante tentativas - felizmente frustradas - de implantação do Conselho Nacional de Jornalismo, da Ancinav, do controle externo amplo da Magistratura e do Ministério Público, do controle da advocacia e outras iniciativas semelhantes.

Se me perguntarem se os ilícitos que são desventrados pela imprensa, pelas CPI's, pelas revelações dos envolvidos prestadas na polícia e junto ao Ministério Público, são demonstração de desvio de caráter dessas pessoas, responderei que não. Acreditam eles na velha máxima de que o ideal maior de implantação de uma república marxista tudo justifica, inclusive a corrupção - meio inidôneo, mas útil ao seu desiderato. Felizmente, a democracia em nosso país é mais sólida do que imaginavam.

Esperemos que, no futuro, o eleitor brasileiro saiba preservar, nas urnas, a democracia, a tanto custo reconquistada no Brasil, assegurando a liberdade do povo brasileiro de decidir seu próprio destino e de não se submeter às imposições dos seguidores de Marx, que, entre nós, continuam apegados a idéias anacrônicas e mal sucedidas em todas as partes do mundo.