Título: Sem entraves para o crescimento
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 08/11/2004, Economia, p. A19
Pesquisa da CNI revela que indústria acelera investimentos para elevar produção e atender à expansão da demanda
O limite da capacidade de produção não será uma barreira à expansão da indústria em 2005. Essa é a principal conclusão do relatório sobre investimentos elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) a partir de consulta feita a 1.224 indústrias. Concluída a eleição municipal, governo e empresários voltam o olhar para o próximo ano na tentativa de dimensionar o nível do investimento privado na economia e a capacidade do país em crescer sem gerar inflação. Nessa análise três variáveis ganham relevância: comportamento da demanda, tendência ou não de elevação dos juros básicos (Selic) e o custo dos tributos sobre o capital destinado à produção.
- A elevação da taxa de juros é sempre nociva porque estimula o investimento especulativo em detrimento do produtivo - avaliou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello. No mês de outubro, o Banco Central surpreendeu a iniciativa privada com uma guinada na taxa Selic de 16,25% para 16,75% ao ano.
Em 2005, empresários, economistas e governo apostam em um ritmo menor da expansão das exportações e se perguntam se em 2005 a demanda interna liderará a arrancada do Produto Interno Bruto (PIB). Ainda que persistam as incertezas, uma parte do empresariado começou a tirar os projetos da gaveta.
Um dos setores que lideraram a arrancada da indústria neste ano foi o segmento de máquinas e equipamentos. O programa de investimentos somou R$ 6 bilhões em expansão, modernização e manutenção das linhas de produção para 2005. De janeiro a setembro, os fabricantes faturaram R$ 33 bilhões, 28% acima das receitas obtidas em igual período de 2003, um resultado que foi influenciado pelo incremento de 38% das exportações de bens de capital.
O custo do dinheiro é fator determinante na decisão dos empresários. O presidente da Confederação Nacional da Indústria, deputado Armando Monteiro Neto (PTB/PE), é um dos que insistem na redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Taxa usada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na atualização dos financiamentos, a TJLP está fixada em 9,75% ao ano.
Para Monteiro Neto, a permanência da taxa neste patamar aliada à tendência de alta da Selic compõem um cenário preocupante para os investimentos.
- Estamos analisando a evolução da demanda porque esse movimento de elevação da taxa Selic pode gerar um reflexo direto na decisão do investimento dos empresários. Nós vemos isso com preocupação - afirmou Monteiro Neto.
Estudo divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no entanto, informa que projetos de investimento elaborados no primeiro semestre somam US$ 56,480 bilhões, com destaque para as áreas de refino de petróleo, fabricação de coque, metalurgia básica, produtos químicos e papel e celulose.
No segmento de material de transportes, duplamente favorecido pelas crescentes vendas no mercado externo e interno, algumas das empresas mantêm firme a disposição em ampliar o fluxo de dinheiro no aumento da capacidade instalada. A fabricante francesa de pneus Michelin é um exemplo.
A empresa decidiu acelerar o investimento de US$ 98 milhões na ampliação das suas unidades industriais no Rio de Janeiro. Desse total, US$ 74 milhões serão usados na expansão da fábrica de pneus de carga no Rio de Janeiro e US$ 24 milhões, na ampliação da fábrica de cabos e aros de aço da cidade fluminense de Itatiaia.
Uma das metas da empresa é ampliar de 1,3 milhão para 1,6 milhão a produção de pneus até o fim de 2007. Os US$ 98 milhões representam apenas a primeira fase de um projeto de investimentos que totaliza US 300 milhões destinados a tornar a unidade de pneus de carga do Rio de Janeiro em uma das maiores entre as 74 fábricas do grupo no mundo até 2011.
A maior utilização da capacidade instalada na indústria, combinada com a perspectiva de continuidade do crescimento sinalizou a maior disposição dos industriais em aplicar dinheiro na expansão das fábricas.
A CNI tentou mapear esse estado de ânimo e detectou que o percentual de empresas que planejam investir é de 94% no grupo das grandes indústrias e de 82% entre as pequenas e médias. Um dos economistas responsáveis pelo relatório, Renato da Fonseca citou os fatores que determinam o maior ou menor nível de investimento: demanda, custo dos projetos, capacidade de competição e grau de ocupação da capacidade instalada.
Num contexto em que governo e empresários analisam como elevar a taxa de investimento na economia para mais de 20% do PIB, Renato da Fonseca comentou que algumas incertezas contaminam a confiança da iniciativa privada.
- A regulamentação da economia tem evoluído, mas ainda há muita burocracia na abertura de empresas, a reforma tributária não aconteceu e o sistema de arrecadação permanece confuso - apontou Renato.
Entre os fatores que podem limitar o capital destinado à expansão dos negócios constam - além da demanda, juros e tributos - ainda a escassez de recursos próprios e a oferta de financiamento por parte do sistema financeiro.