O Estado de São Paulo, n. 46789, 24/11/2021. Política p.A13

 

PSDB contrata nova empresa para concluir votação interna

 

Marcelo de Moraes

 

O PSDB decidiu contratar uma nova empresa para concluir o sistema de votação de suas prévias presidenciais. No domingo, o partido foi obrigado a suspender o processo de escolha do candidato tucano ao Palácio do Planalto após uma série de falhas apresentadas pelo aplicativo da Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs), contratada para o serviço.

Agora, a Relatasoft foi escolhida para cuidar do novo aplicativo, o D. Voto, desde que o sistema passe pelo "teste de estresse" ao qual será submetido durante toda a madrugada desta quarta-feira. A empresa integra o Projeto Eleições do Futuro, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A ideia é retomar a votação, suspensa no domingo, o mais rapidamente possível. Mas, além dos ajustes técnicos, a nova data depende das negociações políticas entre os candidatos. Disputam as prévias os governadores João Doria (São Paulo), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.

 

'DESFECHO'. Doria e Virgílio deram entrevista juntos e defenderam a adoção do novo aplicativo para concluir as prévias do partido. "Queremos que esse desfecho seja feito no período mais curto com a conclusão das prévias sendo realizadas no máximo até o domingo", disse Doria. O tucano também saiu em defesa do presidente do PSDB, Bruno Araújo, que passou a receber críticas internas pelos problemas ocorridos com o aplicativo. As falhas na ferramenta on line arranharam ainda mais a imagem do partido.

Segundo dirigentes do PSDB, os técnicos da Faurgs não forneceram explicações convincentes sobre o problema envolvendo a ferramenta de votação nem teriam oferecido soluções seguras para que continuassem participando das prévias. O aplicativo custou cerca de R$1,5 milhão.

 

'VÍTIMA. "O PSDB foi vítima de um problema técnico nas prévias para escolher seu candidato à presidência da República e busca meio para retomá-las. Entre as possibilidades, já há empresa que será submetida ao teste de estresse por todas as candidaturas", informou o partido, em nota oficial.

"Mais alternativas estão em análise. Ainda não foi apresentado diagnóstico do ocorrido pela Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs), desenvolvedora do aplicativo que apresentou falhas", diz o comunicado. "O fundamental é garantir o voto dos filiados já cadastrados. Os votos já registrados na urna e em aplicativo estão válidos e serão computados."

Apesar das divergências, há consenso entre os tucanos sobre o desgaste provocado por causa da suspensão das prévias. Além disso, o problema exibiu o acirramento da disputa entre os grupos de Doria e Eduardo Leite .

 

_____________________________________________________________________________________________________________________

 

Partido agora tem embate do 'laranja' com o 'maçã podre'

 

Em mais um round na troca de acusações entre os tucanos que disputam as prévias presidenciais, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio reclamou do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tê-lo chamado de "laranja", numa entrevista, dando a entender que ele estaria fazendo campanha em favor do governador de São Paulo, João Doria. Para Arthur, Leite está "muito mal aconselhado" pelo deputado federal Aécio Neves (MG), um dos coordenadores da campanha do governador gaúcho. Para o ex-prefeito, Aécio é "uma pessoa nociva para o partido". Segundo Virgílio, o mineiro é uma "maçã podre" no PSDB. "Se Aécio deixar o partido eu vou subir de joelhos a escadaria da Penha".

Aécio respondeu usando a mesma metáfora. "Eu até me diverti com a analogia com frutas que ele fez. Quando encontrá-lo vamos ter uma conversa no pomar. Da maçã do PSDB com o laranja do Doria", disse em nota. / M.M.

 

_______________________________________________________________________________________________________________________

 

Moro defende aumento de auxílio e faz aceno aos tucanos

 

Lauriberto Pompeu

 

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro criticou ontem os governos de Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seus potenciais adversários na disputa presidencial de 2022 e, ao lado da bancada do Podemos – partido ao qual se filiou recentemente –, defendeu em entrevista no Senado a proposta alternativa à PEC dos Precatórios.

"É perfeitamente possível realizar o incremento do Auxílio Brasil sem derrubar o teto de gastos", afirmou Moro, numa referência a PEC que abre caminho para a criação do novo programa social. "É possível conciliar responsabilidade social com responsabilidade fiscal."

Ao mesmo tempo em que atacou o governo do qual fez parte, o ex-juiz da Lava Jato fez acenos a outros partidos. De olho em uma aliança com o PSDB, Moro minimizou, por exemplo, os conflitos nas prévias presidenciais dos tucanos.

"O PSDB é um grande partido", disse. "Tem que respeitar. Eles vão tomar a decisão no tempo deles", afirmou. Os governadores João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio concorrem na eleição interna que vai escolher o candidato do PSDB ao Planalto.

Após se reunir com integrantes do Podemos, Moro destacou que a proposta alternativa da PEC dos Precatórios, de autoria dos senadores Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), José Aníbal (PSDB-SP) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE), permite a criação do Auxílio Brasil "sem rombo" nas contas públicas. "O Podemos não pode compactuar com o desemprego dos trabalhadores brasileiros e gerar situações ainda mais difíceis, sob o argumento de que isso seria necessário para combater a pobreza", afirmou o ex-ministro.

 

TETO DE GASTOS. Não faltaram críticas ao PT. "O teto de gastos, quando foi criado, em 2016, resultou em uma imediata queda dos juros. Isso impulsionou a recuperação da economia que vinha da recessão criada pelo governo do Partido dos Trabalhadores", disse.

A entrada do ex-ministro na pauta econômica marca a estratégia de sua pré-campanha para evitar sua associação somente com o combate à corrupção. Recentemente, Moro anunciou que o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, é seu conselheiro econômico.

Quando era juiz da Lava Jato, Moro personificou o discurso da antipolítica. Agora, ele tenta equilibrar sua atuação no julgamento de casos de corrupção com a recente entrada na vida partidária. O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou Moro parcial na condenação do ex-presidente Lula. 

 

"É perfeitamente possível realizar o incremento do Auxílio Brasil sem derrubar o teto de gasto. (...) É possível conciliar responsabilidade social com responsabilidade fiscal."

Sérgio Moro (Podemos)

Pré-candidato ao Planalto