Título: BNDES no túnel do tempo
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 22/09/2005, Economia & Negócios, p. A17

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Guido Mantega, adotou um discurso que remetia à gestão de seu antecessor, Carlos Lessa. O atual titular da instituição defendeu, ontem, a queda da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP, referência para os empréstimos do banco) - uma das bandeiras de Lessa, que caiu, entre outras razões, em virtude dos ataques à condução da política monetária.

Adotando um tom mais comedido do que Lessa em sua avaliação sobre a taxa, Mantega alertou para os riscos da manutenção da taxa no atual patamar, de 9,75% ao ano, e pediu que o Conselho Monetário Nacional (CMN) que a reduzisse, para evitar o que chamou de ''desequilíbrio inflacionário''. A TJLP não cai desde o primeiro trimestre de 2002, afetando a competitividade do setor produtivo nacional.

Para Mantega, a queda na projeção da inflação, do risco país e da taxa básica de juros (Selic) prevista para os próximos meses abriram espaço para promover um corte na TJLP, na próxima reunião do CMN, semana que vem.

- Se a TJLP ficar no mesmo patamar, com a inflação caindo, vai ser reduzido o custo do consumo e aumentado o da produção - diz Mantega.

De acordo com o presidente do banco, a inflação e o risco país, ambos em trajetória descendente, são os principais fatores observados pelo conselho para a decisão.

A redução da TJLP foi um dos pleitos apresentados pelos presidentes das quatro maiores federações industriais do país: Paulo Skaf (São Paulo), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira (Rio de Janeiro), Robson Braga de Andrade (Minas Gerais) e Paulo Tigre (do Rio Grande do Sul), que participaram de almoço com Mantega. Os empresários defendem que o corte da taxa seria um dos pontos impulsionadores da economia nacional.

- A discussão agora é saber como fazer o Brasil crescer acima do patamar esperado de 3,5% a 4%, que é baixo frente aos demais países emergentes. Não há remuneração de investimento que se compare com o custo atual do custo do capital. A taxa poderia estar entre 7% e 8% - argumenta Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Os empresários voltaram a defender uma reformulação do CMN. Para Skaf, seria importante que as decisões tomadas pelo conselho fossem também divididas com ministérios como o do Trabalho e Desenvolvimento e não somente pelos três membros atuais: Planejamento, Fazendo e Banco Central. Mantega endossa parcialmente o pleito, já que, em sua avaliação, a extensão do conselho deve se limitar a uma maior participação de integrantes do próprio governo.