Valor Econômico, v. 20,
n. 4875, 07/11/2019. Política, p. A12
Câmara aprova projeto
sobre aposentadoria militar
Marcelo Ribeiro
Raphael Di Cunto
A Câmara dos Deputados rejeitou ontem, por 307
votos a 131, o recurso do Psol e do Novo contra a
votação conclusiva do projeto de lei de reestruturação das carreiras e reforma
do sistema de previdência dos militares.
O objetivo dos partidos
era obrigar a análise da proposta pelo plenário da Casa. Com a derrota do
recurso, o texto segue diretamente para análise do Senado Federal após a
votação da redação final na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Além do Psol e do Novo, partidos de oposição também orientaram pela
aprovação do recurso, com exceção do PDT, que liberou a sua bancada. O
resultado pode ser interpretado como uma vitória do governo do presidente Jair
Bolsonaro, já que evitou atrasos na tramitação da proposta.
O líder do PSB na
Câmara, Tadeu Alencar (PE), afirmou que não era razoável que a proposta fosse
debatida só por um colegiado de 30 parlamentares e os outros quase 500 não se
manifestassem. Por outro lado, o deputado Cacá Leão (PP-BA) afirmou que a
“matéria já está madura e pode ir ao Senado”, e o líder do PSD na Casa, André
de Paula (CE) disse que disse que o texto “foi discutido de forma
democrática e à exaustão”.
Parlamentares do Centrão defenderam a rejeição do recurso para evitar o
desgaste desse debate e eventuais mudanças no texto, que poderiam ampliar os gastos
do governo com a reestruturação das carreiras. Havia pressão para estender as
medidas para os militares da reserva.
Na semana passada, a
comissão especial aprovou a reforma de forma conclusiva, dispensando a análise
no plenário, mas o Novo e o Psol fizeram recursos
para que a proposta fosse analisada por todos os deputados. O Psol argumentou que o projeto beneficiou mais os generais
do que os praças e o Novo criticou a reestruturação da
carreira em meio ao ajuste fiscal.
Com a aprovação, os
militares terão regras diferenciadas em relação aos servidores públicos civis e
demais trabalhadores. A reforma aumentou o tempo de serviço mínimo deles de 30
anos para 35 anos para se aposentarem, mas sem idade mínima, e com aumento da
alíquota de previdência, de 10,5% para 14%. A aposentadoria será integral, com
o valor igual a dos militares da ativa e com os
mesmos reajustes salariais, o que foi extinto para os demais trabalhadores do
país. Essas regras foram estendidas para os policiais e bombeiros militares. As
viúvas e dependentes terão direito a pensão integral, sem os mesmos cortes dos
demais pensionistas.
As discussões no
plenário giraram em torno de que as gratificações e o aumento salarial que os
militares teriam com a reestruturação das carreiras não eram iguais para todos
os postos da hierarquia. A maioria da Câmara dos Deputados preferiu não tratar
do tema e enviar o projeto direto para o Senado.
Antes de votar o
recurso, a Câmara aprovou, por 283 votos a 61, regime de urgência para projeto
que pode obrigar os donos de empresas envolvidas em corrupção a deixarem o
negócio, uma alternativa à proibição de contratar com o poder público. Com
isso, a proposta, elaborada por um grupo de juristas no ano passado, será
votada direto no plenário, sem passar pelas comissões.