Valor Econômico, v. 20,
n. 4875, 07/11/2019. Política, p. A14
Texto-base da PEC
paralela passa em 1º turno no Senado
Renan Truffi
Vandson Lima
O texto-base da chamada “PEC Paralela”, que
complementa a reforma da Previdência ao dar possibilidade de Estados e
municípios adotarem regras da União para seus regimes próprios de
aposentadoria, foi aprovado ontem em primeiro turno, por 56 votos a 11, no
plenário do Senado. Os senadores ainda analisavam os destaques, e a expectativa
é que essa etapa seja concluída nos próximos dias. A aprovação da PEC Paralela
abre caminho para a promulgação da reforma da Previdência em si, agendada para
acontecer no dia 12.
A análise dos destaques
da PEC Paralela também deve ocorrer neste dia. A equipe econômica tem mostrado
preocupação com uma emenda da oposição, de autoria do senador Paulo Paim
(PT-RS), que busca recuperar a aposentadoria integral por incapacidade
permanente. Isso porque, na avaliação do Ministério da Economia, essa alteração
tem potencial para gerar um impacto negativo de R$ 78 bilhões em dez anos.
De acordo com o texto
principal da reforma da Previdência, a aposentadoria integral por invalidez
fica limitada somente aos que se acidentarem no trabalho. Para o caso do
trabalhador se tornar incapaz em decorrência de acidente ou doença que não
esteja relacionada à atividade profissional, a regra é outra: o valor da
aposentadoria seria de apenas 60% da média das contribuições, com dois pontos
percentuais por ano de contribuição.
A emenda de Paim sugere,
no entanto, que, mesmo nos casos de invalidez sem acidente ou doença de
trabalho, o beneficiado teria direito a 100% da média das contribuições e
acréscimo de 10 pontos percentuais no cálculo do benefício.
Além disso, o texto
final passou por algumas modificações depois que o relator, senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE), decidiu acatar emendas apresentadas na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) ontem. De acordo com a versão final, os estados e
municípios precisam aprovar, por lei ordinária, a adesão ao conteúdo da
reforma. A proposta ainda permite que municípios optem pela reforma, ainda que
seus respectivos Estados não façam o mesmo.
O desafio do governo,
entretanto, será conseguir aprovar essa inclusão também na Câmara. Isso porque,
no primeiro semestre, os deputados optaram por rejeitar a ideia de estender a
reforma da Previdência às unidades da federação.
Neste sentido, como
forma de estimular a adesão de Estados e municípios, Tasso acatou uma emenda
que garante pensão por morte no valor de um salário mínimo, desde que os
governos estaduais e prefeituras aceitem as mudanças no sistema de
aposentadorias, algo que já está previsto para servidores federais e
assegurados da iniciativa privada. Na prática, essa sugestão estende o mesmo
benefício para parentes de servidores estaduais que tiverem acesso à pensão por
morte.
Houve ainda um ajuste
feito no texto para preservar a isenção de setores que aderiram à desoneração
da folha de pagamento até 2020, mas estavam sendo onerados novamente pelo texto
da proposta. Um dos exemplos é o setor calçadista.
Tasso ainda fez um recuo
no âmbito da isenção previdenciária prevista para instituições beneficentes de
assistência social. Inicialmente, a PEC Paralela acabava com esse benefício no
caso de entidades que oferecem pouca contrapartida à sociedade.
Em outro acordo com o
governo, Tasso Jereissati incorporou ao texto uma sugestão do Major Olímpio
(PSL-SP), para que Estados e municípios estabeleçam regras diferenciadas -
idade e tempo de contribuição - para peritos criminais, guardas municipais e
oficiais, além de agentes de
inteligência. Mais do que isso, os governos
estaduais poderão implementar, no caso de militares estaduais, duas práticas
adotadas atualmente pela União em relação às Forças Armadas: a possibilidade de
aproveitamento de militares da reserva em atividades civis e de contratação de
militares temporários.