O Globo, n. 32655, 02/01/2023. Política, p. 5
Presidente nega revanche, mas quer punição ao terror
Em seus discursos ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou como pretende lidar com o bolsonarismo e com seu antecessor na Presidência da República, Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo que pregou uma reconciliação e afirmou que seu governo não carregará “nenhum ânimo de revanche”, Lula defendeu, ao se referir à gestão anterior sem citar nominalmente Bolsonaro, que “quem errou responderá por seus erros” e que o “terror e violência” devem ser respondidos com a “lei e suas mais duras consequências”.
— Não temos nenhum ânimo de revanche, mas vamos garantir o primado da lei. Quem errou responderá por seus erros, com direito à ampla defesa dentro do devido processo legal. O mandato que recebemos, frente a adversários inspirados no fascismo, será defendido com os poderes que a Constituição confere à democracia — afirmou o novo presidente.
— Ao ódio, responderemos com amor. À mentira, com a verdade. Ao terror e à violência, responderemos com a lei e suas mais duras consequências.
Negacionismo
Lula também destacou ontem a necessidade de apuração e responsabilização do governo Bolsonaro, que classificou como “negacionista, obscurantista e insensível à vida”, pela condução da pandemia de Covid-19, que deixou quase 700 mil mortos no país e a que se referiu como “genocídio”.
— As responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes — declarou o presidente em seu pronunciamento no Congresso.
No parlatório do Planalto, as críticas a Bolsonaro seguiram, com foco na piora de indicadores sociais e econômicos, mas a tônica do discurso de Lula foi pregar que é “hora de olhar para frente” e que “não é hora para ressentimentos estéreis”. A fala nessa linha ocorreu após a multidão em frente ao Planalto entoar a frase “sem anistia” diversas vezes, quando Lula citava retrocessos em diferentes áreas da administração federal.
— Nesses últimos anos, vivemos sem dúvida um dos piores períodos de nossa História, uma era de sombras, incertezas e muito sofrimento. Mas esse pesadelo chegou ao fim pelo voto soberano na eleição mais importante desde a redemocratização do país — defendeu Lula.
— Essa extraordinária vitória da democracia nos obriga a olhar para frente e esquecer nossas diferenças, muito menores daquilo que nos une para sempre: o amor pelo Brasil e a fé inquebrantável em nosso povo.