O Globo, n. 32655, 02/01/2023. Política, p. 9

A fome como prioridade

Bruno Góes
Jeniffer Gularte
Alice Cravo
Sérgio Roxo
Bernardo Mello
Lucas Mathias
Marlen Couto


Em discurso em tom emocional no parlatório do Palácio do Planalto, após receber a faixa presidencial de representantes da população, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elencou como uma de suas prioridades o combate à desigualdade e à extrema pobreza. No pronunciamento direcionado aos milhares de apoiadores que acompanhavam a cerimônia de posse em Brasília, ele chorou ao listar exemplos de retrocesso do país na área social.

Lula defendeu ser “urgente e necessária a formação de uma frente ampla contra a desigualdade”. E lembrou o compromisso assumido há 20 anos, quando iniciou seu primeiro mandato, de acabar com a fome e a miséria.

— Muito do que fizemos foi desfeito de forma irresponsável e criminosa. A desigualdade e a extrema pobreza voltaram a crescer — discursou Lula. — A volta da fome é um crime, o mais grave de todos, cometido contra o povo brasileiro.

A primeira vez em que o choro interrompeu o discurso de Lula foi ao citar “trabalhadoras e trabalhadores desempregados exibindo, nos semáforos, cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: ‘Por favor, me ajuda’”.

O petista listou episódios que retratam a extrema pobreza, acentuada com a pandemia de Covid-19, como filas nos açougues em busca de ossos.

— A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais ao dividi-lo  em partes que não se reconhecem. De um lado, uma parcela que tudo tem, de outro uma multidão a quem tudo falta, e uma classe média que vem empobrecendo ano a ano graças às injustiças do governo. — afirmou o presidente.

— Se queremos construir hoje nosso futuro, viver em um país plenamente desenvolvido para todos e todas, não pode haver lugar para tanta desigualdade.

O presidente afirmou que ele e seu vice, Geraldo Alckmin, têm o compromisso de combater todas as formas de desigualdade — de renda, gênero e raça, passando pelo mercado de trabalho, até o acesso a serviços públicos — e que essa será a grande marca de seu governo.

— Reassumo o compromisso de cuidar de todos os brasileiros e brasileiras, sobretudo daqueles que mais necessitam. De acabar outra vez com a fome neste país. De tirar o pobre da fila do osso para colocá-lo novamente no Orçamento —disse Lula.

Como havia feito ao discursar no Congresso, Lula criticou a “odiosa pressão imposta às mulheres, submetidas diariamente à violência nas ruas e dentro de suas próprias casas”. O petista também destacou a desigualdade no tratamento em relação a homens no mercado de trabalho e disse que o objetivo do Ministério das Mulheres é a mudança deste quadro:

— É inadmissível que (as mulheres) continuem a receber salários inferiores aos dos homens quando no exercício de uma mesma função. Elas precisam conquistar cada vez mais espaço nas instâncias decisórias desse país.

Ele reafirmou promessas de campanha, como a de gerar empregos, reajustar o salário mínimo acima da inflação, baratear o preço dos alimentos e retomar o Minha Casa Minha Vida.

Referência à prisão

Lula iniciou seu discurso no parlatório fazendo referência ao período em que esteve preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, entre 2018 e 2019. O presidente repetiu uma saudação feita por apoiadores que ficavam acampados no entorno da PF, no movimento denominado “Vigília Lula Livre”, e agradeceu a seus eleitores antes de referir-se ao conjunto da população.

— Minha gratidão a vocês que enfrentaram a violência política, que tiveram coragem de vestir nossa camisa e agitar a bandeira do Brasil enquanto uma minoria violenta e antidemocrática tentava se apropriar do verde e amarelo que pertence a todo o povo brasileiro —afirmou Lula.