Título: Lançada a frente contra as armas
Autor: Rodrigo Vasconcelos
Fonte: Jornal do Brasil, 22/09/2005, Brasília, p. D5

Representantes de 30 entidades da sociedade civil, parlamentares, estudantes e moradores de diversas regiões administrativas participaram ontem do lançamento da Frente Brasil Sem Armas no Distrito Federal, no Teatro Dulcina (Conic). O objetivo da Frente é divulgar, esclarecer e mobilizar a população do DF para votar pelo sim à proibição do comércio de armas de fogo no Brasil, no referendo de 23 de outubro. Já existem comitês no Guará, em Samambaia e outros devem ser criados nos próximos dias.

Um deles é o Comitê do Desarmamento do Guará, criado antes mesmo da aprovação do referendo no Congresso Nacional, no dia 6 de julho. Desde então, o comitê organizou a caminhada Sou da Paz, que reuniu dezenas de pessoas no dia 4 de agosto e um passeio de bicicleta com 300 ciclistas no Guará.

- Vamos organizar palestras, debates e manifestações para mostrar a população que a arma de fogo não é instrumento de proteção, mas de destruição e morte - disse Alírio Neto, delegado da Polícia Civil do DF, um dos coordenadores do Comitê do Desarmamento no Guará.

O delegado usou dados da Polícia Civil do DF para reforçar os argumentos a favor da proibição da venda de armas de fogo. De acordo com ele, 1.306 armas foram apreendidas em ocorrências policiais de janeiro a junho de 2005 no Distrito Federal. Dessas, 93% eram de fabricação nacional. Alírio cita também dados do Corpo de Bombeiros: no ano de 2004, 37 crianças e adolescentes foram feridos em acidentes com armas de fogo no DF, das quais 11 morreram antes de chegar ao hospital.

Para Valéria Velasco, presidente do Comitê Nacional de Vítimas da Violência (Convive) acredita que o maior trunfo do movimento a favor do sim à proibição do comércio de armas são as estatísticas.

- O Brasil é o país onde mais se morre por disparos de arma de fogo no mundo. Foram mais de 400 mil entre 1979 e 2003, segundo dados da Unesco. Dos homicídios, 63,9% são cometidos por meio do uso de arma de fogo, de acordo com o Sistema Único de Saúde. Quase a metade das vítimas é de jovens entre 15 e 24 anos - disse Valéria, mãe de Marcos Antônio Velasco, morto em 1994 por uma gangue de rua da Asa Norte.

O deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), secretário-geral da Frente Brasil Sem Armas, acredita que a participação da sociedade fará a diferença durante a campanha eleitoral, que contará com o reforço do horário gratuito na televisão a partir de 1º de outubro.

- A Bancada da Bala e os interesses da morte não contam com o apoio da sociedade e dos movimentos sociais. É preciso fazer com que todo brasileiro saiba que arma dentro de casa aumenta em quatro vezes o risco de morte por homicídio, suicídio ou acidente e que quem pensa em se proteger de assaltos ao usar a arma na cintura corre 180 vezes mais risco - disse o deputado, que citou dados de uma pesquisa realizada pela ONG Instituto Superior de Estudos da Religião.

O presidente do PT-DF, deputado distrital Chico Vigilante, disse que o PT deverá decidir como participará da campanha a favor do desarmamento nos próximos dias.

- Vamos reunir a executiva e ver a melhor maneira de apoiar a campanha que, a meu ver, ainda está tímida - disse o parlamentar.