Título: Força que brota do cerrado
Autor: Guilherme Queiroz
Fonte: Jornal do Brasil, 08/11/2004, Brasília, p. D3

Atingida pelo fogo, há 3 meses, a Chapada Imperial recupera a exuberância

Do estrago causado pelo fogo que atingiu a Chapada Imperial, no início de agosto, apenas os caules chamuscados das árvores em meio a natureza novamente exuberante denunciam que metade da reserva - com 4.500 hectares - fora consumida por um incêndio florestal. A fauna, em parte dizimada pelas labaredas, também já dá sinais de retorno à reserva. O verde e a vida nova que cobrem o cerrado da reserva confirmam que a devastação trazida pelo fogo já foi superada. Passados três meses desde que foi consumida por um incêndio durante dois dias, a Chapada Imperial - maior reserva particular do DF - pouco se parece com espaço que ficou coberto pelas cinzas. Onde a vegetação rasteira foi atingida pelas chamas, brotam novos arbustos, mais verdes que o mato que ficou intocado pelo fogo. Dos quatro tributários do Ribeirão Dois Irmãos, que nascem na fazenda, as nascentes de dois foram atingidos pelo fogo.

- São mais de 50 nascentes na fazenda. Quase todas foram atingidas pelo fogo - lamenta Marcelo Imperial, um dos donos da reserva.

Os prejuízos à fauna foram grandes. Utilizada para a reinserção de animais silvestres capturados pelo Ibama, a Chapada Imperial abrigava centenas de bichos em sua área. Marcelo guarda, em uma caixa de vidro, dois pássaros azulões que encontrou entre as aves mortas durante o incêndio. Próximo à sede da fazenda, mantém o esqueleto de um jabuti, de cerca de 50 anos, que foi queimado e não resistiu aos ferimentos.

- Muitos animais lentos sucumbiram: alguns jabutis, cobras, tamanduás-bandeira, por exemplo, não conseguira se salvar - relata Marcelo.

Ele conta que o fogo foi ateado em uma propriedade vizinha ''provavelmente para se fazer um pasto''. Com as rajadas de vento, entretanto, as chamas cruzaram o Ribeirão Dois Irmãos, queimando a vegetação até a cerca da propriedade, a cinco quilômetros dali. O combate ao incêndio durou dois dias. Participaram da ação 40 homens e um helicóptero do Corpo de Bombeiros, acoplado de balde gigante - apelidado de Bambi -, com capacidade para 550 litros de água.

- Havia muitos anos que a reserva não pegava fogo. Muita biomassa estava acumulada e o vento complicou muito - avalia Marcelo.

A ação rápida dos bombeiros, segundo Marcelo, evitou que as chamas chegassem à área que considera a mais importante da região. O Vão dos Anjicos, uma região baixa onde a mata ciliar original permanece quase intacta, protegendo o Rio Amador, um dos principais afluentes da bacia do Tocantins-Araguaia, nascidos no DF. A área abrigas mais de dez cavernas, dentro das formações calcárias da região. É nessa área onde a maioria das espécies capturadas pelo Ibama são devolvidos à natureza.

No saldo imediato do incêndio, seis pôneis foram queimados mas sobreviveram às queimaduras. Os 20 cavalos criados na fazenda, que estavam em uma área cercada, só foram salvos das chamas porque os bombeiros cortaram os arames, libertando os animais. Cerca de 4 mil m² de uma vereda de buritis, às margens do Ribeirão Dois Irmãos, que haviam sido destruídas estão recuperadas. Dos três passeio oferecidos aos visitantes, uma pequena parte de ainda está interditada.

- Com a chegada das chuvas a natureza se recuperou e os pássaros, por exemplo, já voltaram a aparecer na área - comemora