O Estado de São Paulo, n. 46792, 27/11/2021. Economia p.B5

 

Novos indicadores do IBGE reforçam o 'retrato' da desigualdade no Brasil

 

 

Roberta Jansen

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou ontem dois novos indicadores concebidos para ampliar a compreensão sobre a qualidade de vida dos brasileiros. O órgão lançou o Índice Multidimensional para a Perda de Qualidade de Vida (IPQV) e o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS). Os novos indicadores reforçam as constatações das pesquisas sobre desigualdades regionais do País, assim como as de gênero e de raça.

Os índices são baseados em variáveis da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 20172018 (POF), de antes da pandemia de covid-19, e foram elaborados a partir de recomendações das Nações Unidas. O objetivo é que, no futuro, quando outros países criarem índices semelhantes, os dados sejam comparáveis.

O IPQV abarca nove dimensões: renda, moradia, acesso aos serviços de utilidade pública, saúde, alimentação e educação, acesso aos serviços financeiros e padrão de vida, transporte e lazer. O índice vai de 0 a 1, sendo que, quanto mais perto do zero, menor a perda de qualidade de vida. Nessa primeira rodada de dados, o IPQV do Brasil foi de 0,158 entre 2017 e 2018. Devido às desigualdades sociais do País, as regiões Norte e Nordeste registraram os piores índices, respectivamente, 0,225 e 0,209.

 

QUEM PERDEU MAIS. O índice revela ainda algumas características do grupo que apresentou o menor índice de perda: destacam-se moradores da área urbana (15%), famílias com pessoa de referência de cor branca (21%) e do sexo masculino (15%), com ensino superior completo (42%). As maiores perdas foram registradas nos seguintes grupos: moradores da área rural (28%), famílias com pessoa de referência de cor preta ou parda (14%) e do sexo feminino (11%), sem instrução (31%).

Após a análise do impacto da perda da qualidade de vida sobre as famílias, os pesquisadores estimam como tais privações afetam o desenvolvimento de toda a sociedade para criar o segundo novo índice, o IDS. Para mensuração desse impacto, foi utilizada como referência de desenvolvimento ou progresso socioeconômico a renda familiar média por pessoa. O teto é dez; quanto maior, mais positivo.

O IDS do Brasil foi de 6,201.

Das 27 unidades da federação, apenas nove obtiveram resultado superior ao valor registrado para o Brasil. Distrito Federal e São Paulo foram as que apresentaram os maiores valores do IDS: 6,970 e 6,869, respectivamente.

Dezoito Estados registraram IDS abaixo da média do País. Todos os do Norte e do Nordeste estão nesse grupo. Maranhão e Pará apresentaram os menores resultados, com valores do IDS iguais a 4,897 e 5,099. 

 

Diferenças entre Estados

6,970

é o Índice de Desempenho Socieconômico no Distrito Federal, o mais alto entre as 27 unidades da federação

 

6,869

é o de São Paulo, que vem em 2º, seguido dos Estados do Sul: Santa Catarina (6,826), Rio Grande do Sul (6,676) e Paraná (6,655)

 

6,201

é a média brasileira. Acima dela também estão os demais Estados do Sudeste – Espírito Santo (6,399), Minas Gerais (6,374) e Rio (6,349) – e Mato Grosso do Sul (6,326)

 

4,897

é o mais baixo, o do Maranhão. Logo acima vêm Pará (5,099), Alagoas (5,264) e Acre (5,318)