O Globo, n. 32656, 03/01/2023. Política, p. 7

Líder do governo cobra fidelidade da base e destoa de ministros

Jeniffer Gularte
Sérgio Roxo
Bruno Góes


Enquanto os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) assumiram seus cargos ontem com discurso de conciliação, pregando o diálogo, inclusive com a oposição, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), já pressiona aliados a votarem com a nova gestão em troca dos ministérios recebidos.

Neste momento, o alvo de Randolfe é o União Brasil, cujo líder na Câmara, deputado Elmar Nascimento (BA), anunciou que seu partido será independente, apesar de ocupar três pastas. Elmar ficou insatisfeito depois de ter sido vetado pelo PT para o Ministério da Integração Nacional. Segundo o novo líder, em um momento inicial, o governo Lula espera “no mínimo” 60% dos votos da legenda em ambas as Casas.

— Não é aceitável um partido ter três ministérios dos mais importantes da Esplanada (e não votar com o governo), tendo (a escolha do) Ministério das Comunicações criado constrangimentos com a nossa base social. Ter também um Ministério do Desenvolvimento Regional (que virou Integração Nacional). Então, não é aceitável um partido ter uma presença dessa na Esplanada e se arvorar como independente —disse Randolfe.

No domingo, foram empossados três nomes indicados pela legenda: Juscelino Filho (Comunicações), Daniela do Waguinho (Turismo) e Waldez Góes (Integração Nacional). O último deles ainda precisa se filiar à sigla e tem como missão acalmar o partido na Câmara.

Ao GLOBO, Randolfe tratou do patamar mínimo de fidelidade esperada pelo governo:

— O senador Davi (Alcolumbre) assumiu o compromisso conosco de a maioria dos votos da Câmara e do Senado estarem conosco. O que é maioria? Cinco de dez não é maioria. Cinco é metade. Já seis de dez é maioria. Então esperamos que no mínimo 60% na Câmara e no Senado votem com o governo. Isso não se configurando, aí tem que ter uma DR. Discutir a relação, não é? O compromisso, no matrimônio, no altar, de lealdade, incluiu isso.

Ex-governador do Amapá, Waldez Góes, indicado por Alcolumbre para o Ministério da Integração Nacional, é adversário de Randolfe no estado.

Segundo aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o veto à indicação de Elmar Nascimento criou um constrangimento adicional. Lira esperava ter o parlamentar na pasta para poder agradar a deputados que são considerados de sua base. Ou seja, o núcleo duro do Centrão, formado por parlamentares de PP, PL (parte da bancada) e Republicanos. Randolfe disse que a negociação passou apenas pelo União Brasil.

Conciliação

Em outro tom, Rui Costa afirmou ontem, ao tomar posse na Casa Civil, que irá buscar diálogo com os governadores e a sociedade.

— Sentaremos com as bancadas, com os ministros e vamos buscar intensificar com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) um pacto federativo discutido com os governadores. Ainda em janeiro, o presidente quer reunir os governadores para que possamos definir as pautas. Não teremos uma governança de imposição —afirmou.

A exemplo do que disse Lula em sua posse, Costa defendeu a união do país, que saiu dividido do processo eleitoral deste ano:

— Unir o Brasil, unir os diferentes, não significa anular as ideias diferentes. Unir significa intensificar debate, buscar sínteses e consensos. Nossa equipe fará o melhor.

Na mesma Linha, Alexandre Padilha pregou diálogo ao assumir o Ministério das Relações Institucionais, responsável pela articulação política. Em seu discurso, Padilha disse que no novo governo ninguém vai falar em “metralhada” contra opositores.

— Esse mi nis térioéo ministério do diálogo. Esse governo, liderado pelo presidente Lula e pelo vice-presidente Alckmin, éo governo do diálogo. Não existe aqui alguém que vai falar de ‘metralhada’ contra a oposição. Essa época acabou —disse o novo ministro, em uma referência a episódio da campanha de 2018 em que o então candidato Jair Bolsonaro dissequei ria“metralha rape tralhada ”.

O ministro disse também que caberá à sua pasta reabilitar o respeito institucional no país que foi desmontado pelo governo Bolsonaro e afirmou:

— Nesse ministério, está proibido insultar, agredir, ameaçar qualquer agente político seja ele ou seja o partido.

“Esse ministério é o ministério do diálogo. Esse governo, liderado pelo presidente Lula e pelo vicepresidente Alckmin, é o governo do diálogo” Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais

“Não é aceitável um partido (União Brasil) ter uma presença dessa na Esplanada e se arvorar como independente” Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso

“Sentaremos com as bancadas, os ministros e buscar intensificar um pacto federa- tivo discutido com os governadores. Não teremos uma governança de imposição” Rui Costa, ministro da Casa Civil