Título: Aumentam suspeitas de que Dantas financiou o mensalão
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 23/09/2005, País, p. A2

O depoimento contraditório de Daniel Dantas - dono do Grupo Opportunity - aumentou entre os parlamentares as suspeitas de que o banqueiro está realmente envolvido com o mensalão. Além de admitir que teve dois CPFs, Dantas se recusou a abrir seu sigilo bancário para o Congresso. No fim do depoimento, na noite de quarta-feira, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse suspeitar que as telefônicas ligadas ao banqueiro tenham financiado o mensalão. - Na medida em que ele queria uma aproximação com o governo, pode ter lubrificado esse 'valerioduto' com recursos, por meio das teles - afirmou Serraglio.

O relator enviou à Receita Federal um pedido de exame nas notas fiscais das empresas de Marcos Valério. As notas foram emitidas em favor da Telemig Celular e da Amazônia Celular. Algumas destas notas foram queimadas em Minas Gerais e outras roubadas da sala-cofre da CPI dos Correios em Brasília. Os parlamentares suspeitam que houve ''queima de arquivo''.

- Estamos tentando descobrir até onde possa ter acontecido superfaturamento ou notas que não traduzam efetivo serviço - disse Serraglio.

Ao responder às perguntas do deputado Fernando Ferro (PT-PE), Dantas deixou o parlamentar boquiaberto quando admitiu ter possuído dois CPFs e que achava isso natural. A Receita Federal informa que a legislação só permite uma inscrição no cadastro. Dantas contou que morava em Salvador e tirou um CPF para abrir uma conta bancária. Quando foi morar no Rio de Janeiro, diz ter se esquecido do primeiro documento e tirou outro CPF.

- Me foi informado que não há nenhuma irregularidade em possuir os dois - disse Dantas.

Fernando Ferro perguntou ao banqueiro se estaria disposto a abrir os sigilos bancário e fiscal. As CPI's têm a atribuição de quebra de sigilo, mas é costume muitos depoentes se anteciparem e apresentar os dados por conta própria. O banqueiro se recusou.

- Mas, e os outros? Eu sozinho? Os outros empresários brasileiros também teriam que abrir ou só eu? - questionou Dantas.

A memória do banqueiro falhava até para apresentar informações simples. Ele não se lembra com precisão da última viagem que fez ao exterior. ''Acha'' que foi para Nova York. Os deputados queriam saber sobre gastos com advogados, supostamente com dinheiro dos sócios. Dantas não explicou se de fato deu R$ 10 milhões a um advogado de Brasília.

- Não tenho conhecimento desse valor - respondeu o banqueiro.