O Estado de São Paulo, n. 46797, 02/12/2021. Internacional p.A15

 

Variante Ômicron chega aos EUA; UE analisa vacinação obrigatória

 

Era uma questão de tempo. Ontem, os EUA identificaram o primeiro caso da variante Ômicron, detectada na Califórnia. Imediatamente, autoridades americanas recomendaram restrições à entrada de viajantes. Do outro lado do Atlântico, a nova cepa acelerou a discussão sobre a obrigatoriedade da vacina na Europa. Com um terço dos europeus ainda sem imunização, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu a ideia.

"É compreensível e apropriado começar este debate agora, sobre como podemos estimular e pensar na vacinação obrigatória dentro da União Europeia", disse Ursula. "Isto precisa ser discutido. A obrigatoriedade da vacina exige uma abordagem comum."

Na Europa, alguns países, como a Áustria, já adotaram a obrigatoriedade da vacina. Outros, como a Grécia, impuseram multas aos não vacinados. Por isso, apesar de defender uma abordagem comum, Ursula é cautelosa. "Não é meu papel dar nenhum tipo de recomendação. Mas as vacinas salvam vidas. Elas não estão sendo aplicadas a um custo é enorme", disse, em referência aos 150 milhões de europeus que ainda não se vacinaram.

Nos EUA, para conter o avanço da Ômicron, autoridades de saúde recomendaram para quem entra no país a apresentação de um teste negativo de covid realizado até 24 horas antes do voo e o fornecimento às autoridades da lista de passageiros que partem de países africanos – África do Sul, Botsuana, Lesoto, Malavi, Moçambique e Namíbia. As mudanças, porém, ainda não foram oficializadas.

O presidente dos EUA, Joe Biden, deve anunciar hoje os próximos passos no combate à pandemia. No entanto, o governo não deu pistas se incluirá ou não um aumento nas exigências nos testes dos viajantes. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o primeiro caso da Ômicron no país é de um viajante que voou da África do Sul para a Califórnia, no dia 22. Ele estava totalmente vacinado, permanece isolado e apresenta sintomas leves.

 

PERGUNTAS. A variante Ômicron, que foi descoberta por pesquisadores da África do Sul, apresenta um alto número de mutações, o que despertou a preocupação de autoridades de várias partes do mundo. Além dos EUA, ontem Nigéria e Arábia Saudita registraram casos da nova cepa, elevando a 25 o número de países que já identificaram a presença da Ômicron.

Ainda não há informações sobre o grau de transmissibilidade da variante ou se ela seria capaz de driblar a imunização adquirida pelas vacinas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já disse que pode levar semanas até obter mais informações sobre a Ômicron. Sem muitas alternativas, diversos países aumentaram as restrições de entrada e analisam a obrigatoriedade da vacina.

Na terça-feira, o governo Biden sofreu duas derrotas na Justiça. No Estado da Louisiana, o juiz Terry Doughty bloqueou temporariamente a obrigatoriedade da vacina para profissionais de saúde e funcionários de casas de repouso, determinada por Biden na semana passada. Ele argumentou que a medida precisa ser decidida pelo Congresso, não pelo presidente. Em outro caso, no Kentucky, o juiz Gregory Van Tatenhove derrubou a determinação de que licitações públicas incluam cláusulas exigindo que os empregados das empresas contratadas sejam vacinados. 

 

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Americanos resistem a novas restrições

 

CENÁRIO: Annie Linskey

Fenit Nirappil

 

O clima frio faz mais americanos ficarem em ambientes fechados. Os feriados de fim de ano causam uma onda de viagens, criando novas linhas de transmissão. E a variante Delta aumentou o número de hospitalizações. Agora, somando-se às más notícias, uma onipresente nova variante emergiu: Ômicron.

Mas, após 21 meses de restrições, há pouca disposição nos EUA para medidas como fechamento de escolas, proibição de reuniões em ambientes fechados que definiram os primeiros dias da pandemia. Segundo autoridades de saúde, a vontade política para impor medidas impopulares – mas efetivas – vem perdendo força.

"É muito exaustivo", afirmou Ezekiel Emanuel, médico e especialista em bioética da Universidade da Pensilvânia, que integrou o conselho consultivo do presidente Joe Biden durante a transição. "O povo americano está exausto e tem razão para isso. Portanto, o tamanho do risco que as pessoas estão dispostas a assumir aumentou."

Emanuel sugere que a resistência a essas restrições, que alguns países europeus passaram a impor novamente, cria seus próprios perigos. "Com que frequência você escuta pessoas dizendo: 'Não aguento mais essa covid'? Bem, não aguentar mais não quer dizer que a pandemia acabou", afirmou Emanuel.

Autoridades de saúde têm mostrado pouca vontade de impor restrições novamente, preferindo estimular os americanos a mudar de comportamento voluntariamente, sem ameaças punitivas.

Em seu primeiro comunicado a respeito da variante Ômicron, na segunda-feira, Biden estimulou os americanos a se vacinarem e, se forem elegíveis, tomar a dose de reforço, afirmando que especialistas acreditam que as vacinas contra o coronavírus fornecem "pelo menos alguma proteção contra a nova variante, e as doses de reforço fortalecem essa proteção significativamente".

Biden também encorajou os americanos a usarem máscaras em ambientes fechados e lugares lotados, mas afirmou que não tem expectativa de que novos lockdowns ou mais restrições a viagens serão necessários no momento.