Título: BC prevê inflação abaixo da meta
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 23/09/2005, Economia & Negócios, p. A17

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, confirmou a continuidade do processo de afrouxamento da política monetária, mas não deixou claro o ritmo em que os cortes nos juros ocorrerão. Como positivo, o documento afirmou, pela primeira vez, que, pelas projeções do Banco Central, a inflação ano deve ficar abaixo da meta de 5,1% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial.

A perspectiva de uma inflação abaixo do alvo, porém, não foi suficiente, na opinião dos analistas, para sinalizar com maior precisão o movimento dos juros nos próximos meses. Depois de uma redução na Selic de 0,25 ponto percentual em setembro, a expectativa era de que o documento trouxesse sinais mais concretos da condução da política monetária, o que não ocorreu.

O documento mantém a cautela que marca as decisões do Copom ao afirmar que ''a flexibilização da política monetária não comprometerá importantes conquistas dos últimos meses no combate à inflação''. O resultado foi um mercado financeiro dividido entre mais um corte de 0,25 ponto percentual na Selic em outubro, para 19,25% ao ano, ou uma redução de 0,50 ponto percentual.

Embora considerem que alguns pontos da ata evidenciam melhora no humor do BC, muitos economistas lembram que o documento mantém ainda parte do conservadorismo que marca a instituição.

- O BC não quer cometer o erro do passado de alterar muito as expectativas do mercado e depois ter de recuar de sua decisão - avalia Joel Bogdanski, gerente de Política Monetária do Banco Itaú.

Em um dos trechos do documento, o Copom lembra que a flexibilização da política monetária só ocorrerá desde que não comprometa conquistas recentes.

- Acho mais razoável que em outubro a queda seja novamente de 0,25 ponto - diz Bogdanski. - Em 2003, por exemplo, o BC reduziu a Selic de 26,5% para 16,5% em seis meses e depois teve de reavaliar sua política - lembra o economista do Itaú.

O economista-sênior do banco WestLB, Adauto Lima, porém, considerou o documento mais otimista, o que o leva a reforçar as apostas em uma queda dos juros em 0,5% em outubro. Outro ponto positivo foi a avaliação do aumento dos combustíveis, que, por vir dentro do esperado, teria reduzido o foco de incertezas sobre a evolução dos preços em 2005 e 2006. O Copom descartou outro aumento da gasolina este ano, por considerar que a alta de 10%, aplicada há duas semanas pela Petrobras, absorveu o impacto da alta da commodity no mercado externo.

Ontem, o IBGE divulgou que o IPCA-15 - espécie de prévia do índice oficial - registrou alta de 0,16% em setembro, ante 0,28% no mês passado. O período de pesquisa, porém, foi anterior ao do reajuste dos combustíveis. Em agosto, o IPCA cheio ficou em 0,32% e, no ano, acumula 3,79%.