O Estado de São Paulo, n. 46799, 04/12/2021. Política p.A16

 

Gravação da PF mostra deputado do PL com maços de dinheiro

 

Breno Pires

 

O deputado Josimar Maranhãozinho (PL-MA) foi flagrado manuseando grande quantidade de dinheiro que, segundo a Polícia Federal, é resultado de desvios de recursos de emendas parlamentares. Gravadas por uma câmera escondida pelos agentes no escritório do político em São Luís, capital do Maranhão, as imagens mostram o deputado retirando notas de uma caixa. Em outro momento, ele guarda um maço embaixo de uma bolsa.

A ação da Polícia Federal que teve Maranhãozinho como alvo ocorreu na última quarta-feira, um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro se filiar ao PL, partido do deputado. Maranhãozinho é homem de confiança do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que foi condenado e preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no esquema do mensalão, quando fazia parte da base aliada do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Endereços do deputado foram alvo, nesta semana, de uma operação de busca e apreensão. A PF investiga o desvio de R$ 15 milhões em emendas parlamentares destinados aos municípios de Araguanã, Centro do Guilherme, Zé Doca e Maranhãozinho – cidade da qual Josimar já foi prefeito. O dinheiro foi repassado às empresas Águia Farma, Medhosp e Atos Engenharia.

As três firmas, diz a PF, têm entre seus sócios pessoas que possuem vínculo com o parlamentar. Também são ligadas ao deputado a Construtora Madry Ltda., a Joas Consultoria e Marketing Ltda. e a MG Empreendimentos, que atuam na área de infraestrutura.

 

DOCUMENTOS. Além das imagens, a PF também captou áudios de conversas e analisou documentos no escritório que, segundo a investigação, apontam possível ingerência do deputado sobre as prefeituras que recebem suas emendas. Entre os indícios de que ele tinha o controle do que entrava e saía dos cofres municipais estão extratos bancários de prefeituras.

As gravações foram feitas em outubro do ano passado, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), e incluídas no inquérito da Operação Descalabro, que apura uma complexa engrenagem de desvio de dinheiro público direcionado pelo próprio deputado a municípios maranhenses, por meio de emendas parlamentares.

Relatório da Polícia Federal obtido pelo Estadão aponta que o fluxo de dinheiro em espécie no escritório de Maranhãozinho tem como origem repasses que empresas ligadas a ele receberam de prefeituras sob sua influência política.

 

ASCENSÃO. A suspeita da PF é de que após receber os recursos federais, esses municípios contratavam empresas ligadas ao parlamentar. De acordo com investigações da Polícia Federal, a relação de parentesco e ligações pessoais de Maranhãozinho com prefeitos e secretários municipais fazem parte do modus operandi para desvio de dinheiro público em áreas como saúde e infraestrutura.

Em relatório do dia 4 de novembro de 2020, a PF afirma que “é possível observar no presente relatório indicativo de cometimento de ilícitos por parte do deputado federal Josimar Cunha Rodrigues (Maranhãozinho), seus funcionários e pessoas sócias de empresas que frequentam o seu escritório”.

“A constatação em vídeo do parlamentar Josimar carregando maços de dinheiro no escritório, somada às conversas degravadas, indica a movimentação de valores à margem do sistema financeiro nacional”, ressalta o relatório da polícia. “Tal constatação causa preocupação e estranheza, especialmente quando o país está às vésperas de uma eleição municipal onde o citado parlamentar aparenta ter grande influência no Estado.”

Além do desvio de dinheiro, uma das hipóteses levantadas pela Polícia Federal é a de que os recursos estariam sendo utilizados para interferir economicamente na disputa das eleições municipais em São Luís, capital do Estado.

A reportagem procurou o deputado Josimar Maranhãozinho e seu advogado, mas eles não se manifestaram.