Título: Sucessão na Câmara está longe de um acordo
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/09/2005, País, p. A4
A ''busca do consenso'' costuma ser alardeada em Brasília, juntamente quando os fatos parecem se encaminhar em sentido contrário. A sucessão de Severino Cavalcanti não foge à regra e apesar dos propósitos declarados de ''entendimento'' já está se transformando num confronto direto entre governo e oposição. O presidente do PMDB, Michel Temer, um dos candidatos, também vê a eleição polarizada. Considera que o adversário do ex-ministro Aldo Rebelo (PCdoB-SP), candidato do governo, pode ser o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), ou ele mesmo, Temer.
- Acho que teremos um candidato do governo contra um adversário forte Mantenho minha candidatura e me reservo o direito de analisar os desdobramentos.
Surpreendido pelo apoio do ex-candidato do PT, Arlindo Chinaglia, e do Palácio do Planalto a Aldo Rebelo, Temer iniciou entendimentos com Nonô (AL), com vistas ao apoio mútuo.
- Das candidaturas postas, as mais naturais são a minha, porque já fui presidente da Casa, e a do deputado Nonô, porque é o atual vice-presidente - acrescentou.
O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA) também deixou claro ontem que a escolha de Aldo Rebelo como candidato do governo está longe de alcançar algum eventual objetivo do Planalto de se chegar a um consenso.
- Aldo é um grande deputado, mas ele é testemunha de defesa do José Dirceu. Como pode ser juiz? Como pode presidir o julgamento? O governo cometeu mais um grande equívoco ao escolher Aldo para candidato.
Rebelo, ex-ministro da Coordenação Política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi escolhido na noite de quinta-feira como candidato de três partidos da base do governo: PT, PSB e PC do B, que somam 118 deputados. É testemunha de defesa no processo que pede a cassação de Dirceu no Conselho de Ética.
O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), afirmou que qualquer presidente da Casa pode ter uma opinião a favor ou contra a cassação de deputados, mas deve seguir o que consta no regimento.
- A presidência da Casa e o ato de presidir sempre serão atos de caráter republicano dentro do regimento, respeitando o direito ao contraditório e fazendo com que a Casa se expresse. O papel do presidente é garantir um ambiente para que a Casa se expresse por maioria a cada momento - afirmou Fontana.
O líder do PT disse ainda que não vê problemas em Rebelo já ter sido ministro do governo Lula.
- Qualquer presidente que aqui esteja será de um partido que também pode estar do outro lado da rua no Palácio do Planalto.
Fontana citou como exemplo o caso do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que presidiu a Câmara durante a gestão Fernando Henrique Cardoso
- Aécio era do PSDB, mesmo partido do presidente, e evidentemente soube manter a devida independência dos poderes - comentou.
A votação para o novo presidente da Câmara está marcada para as 10h da próxima quarta-feira. O prazo para que os deputados registrem as candidaturas é até 18h de terça.
Até o momento, apenas João Caldas (PL-AL) e Jair Bolsonaro (PP-RJ) fizeram o registro. Para que se inicie a sessão de votação, devem estar no plenário, no mínimo, 257 deputados. Segundo informações da secretaria-geral da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, para que não haja segundo turno, o candidato deve ter os votos de metade dos presentes mais um.
Com agências