O Globo, n. 32662, 09/01/2023. Política, p. 4

República sob ataque



No maior ataque institucional sofrido pelo Estado em períodos democráticos, terroristas bolsonaristas tomaram e depredaram as sedes dos três Poderes ontem em Brasília, numa versão brasileira da invasão do Capitólio por apoiadores do ex-presidente americano Donald Trump, há dois anos, nos Estados Unidos. A destruição dos principais prédios da República brasileira, incluindo os plenários do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Câmara dos Deputados, além do Palácio do Planalto, ficarão como símbolo do domingo de terrorismo na capital federal.

Os atos de ataque à democracia e à ordem institucional foram o ápice de um golpismo estimulado por lideranças bolsonaristas desde antes da eleição, mas intensificados pelo discurso de contestação da derrota de Jair Bolsonaro. Há apenas uma semana no poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou o antecessor por influenciar as agressões e, ao apontar uma possível leniência intencional da Polícia Militar do Distrito Federal, decretou a intervenção federal na área. O secretário de segurança do DF, o bolsonarista Anderson Torres, foi demitido e teve a prisão pedida pelo novo governo.

A reação institucional foi imediata. Além de Lula, os presidentes do Senado e da Câmara, do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de outros tribunais superiores, condenaram os atos de forma contundente. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, além de outros líderes estrangeiros, condenaram os ataques e manifestaram irrestrita solidariedade ao governo e à democracia brasileira.

Algumas das cenas não deixam dúvidas da dimensão simbólica e concreta do assalto à República. No Palácio do Planalto, foram roubadas armas do Gabinete de Segurança Institucional e vandalizada uma tela histórica de Di Cavalcanti. No STF, as poltronas dos ministros e o brasão da República foram destruídos. No Congresso, danificaram os salões onde são feitas as leis. No centro da Praça dos Três Poderes, um terrorista bolsonarista empunhava como um troféu para centenas de comparsas um exemplar da Constituição de 1988 subtraído de dentro do Supremo.