O Globo, n. 32662, 09/01/2023. Política, p. 8

Leniência e incentivo na mira do planalto

Jeniffer Gularte
Mariana Muniz


A intervenção federal decretada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem após bolsonaristas radicais invadirem e depredarem o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal(STF),foi justificada por ele pelo fato de policiais militares, que respondem ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), terem sido supostamente lenientes com os manifestantes, que não foram contidos. O petista ainda acusou o ex-presidente Jair Bolsonaro de estimular os atos golpistas em Brasília.

— Esse genocida não só provocou isso, estimulou isso como, quem sabe, ainda está estimulando isso das redes sociais. Tem vários discursos do ex-presidente estimulando isso, estimulou a invasão nos três Poderes sempre que ele pode —afirmou Lula, durante entrevista coletiva em Araraquara, no interior de São Paulo, onde havia ido para sobrevoar áreas afetadas pela chuva.

A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao STF uma série de medidas judiciais em resposta aos atos terroristas. Entre os pedidos, estão a prisão em flagrante do secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres. Em nota, o governador Ibaneis Rocha afirmou que o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro será exonerado. Torres está em viagem aos Estados Unidos.

O ex-ministro disse ao GLOBO, por mensagem de texto, que prepara sua volta a Brasília “o mais breve possível”. Ele está de férias em Orlando, na Flórida, mas nega que tenha se encontrado com Bolsonaro. Torres disse não poder precisar a data do retorno, porque a viagem envolve sua família, e que só comentará sua exoneração e o pedido de prisão quando retornar ao Brasil.

Na noite de ontem, ao retornar de Araraquara, Lula foi ao Planalto e ao Supremo conferir os estragos promovidos pelos terroristas.

— Esses policiais que participaram disso não poderão ficar impunes e não poderão integrar a corporação porque não são de confiança da sociedade brasileira — afirmou Lula.

Mais cedo, o presidente anunciou o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Garcia Cappelli, para o cargo de interventor. Pelo decreto, o governo federal assumirá todas as funções relativas à segurança pública do DF, mantendo o restante sob responsabilidade de Ibaneis. De acordo com o texto do decreto presidencial, o objetivo da intervenção é “pôr termo a grave comprometimento a ordem pública no Estado do Distrito Federal, marcada por atos de violência e invasão de prédios públicos”.

O presidente afirmou que as pessoas que participaram dos atos serão identificados e punidas de forma exemplar.

— Nós chamamos essas pessoas de fascistas. Invadir a sede do governo, da Suprema Corte e do Congresso é abominável — afirmou Lula, acrescentando: — Vou voltar para Brasília agora, vou visitar os três palácios que foram quebrados e pode ficar certo: isso não se repetirá. Vamos buscar saber quem financiou isso, quem pagava estadia, quem pagava churrasco todos os dias.