Título: Economistas criticam lentidão nos juros
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 24/09/2005, Economia & Negócios, p. A20

A lentidão no corte da taxa básica de juros e o fraco desempenho que o Brasil terá na expansão do PIB este ano foram as principais críticas que nortearam ontem o encontro da Associação Nacional das Instituições de Crédito Financeiro e Investimento (Acref). Para o economista e ex-ministro da Fazenda, Delfim Neto, o arrocho monetário promovido pelo governo Lula surtiu pouco efeito no controle da demanda e na concessão de crédito, colaborando apenas para a ''armadilha'' da sobrevalorização do real frente ao dólar.

- O real já está cerca de 10% supervalorizado frente ao dólar. Não é confortável se ter uma valorização acima das demais moedas quando esta é puxada pela taxa de juros - alerta.

Já na avaliação do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, as atas do Comitê de Política Monetária (Copom) indicam que a instituição tem sido excessivamente cautelosa por ver riscos inexistentes na economia brasileira.

- O Banco Central tem receio ainda de que a atividade econômica possa levar a uma pressão inflacionária e acha que a queda recente da inflação pode ter sido ainda mais localizada do que generalizada. Para mim esta pressão não existe e o BC poderia ter começado a queda dos juros antes - diz ele.

A opinião dos economistas também foi compartilhada pelo presidente do Bradesco, Márcio Cypriano. Para ele, o BC já poderia ter iniciado o corte da Selic em agosto.

- Os indicadores já permitiam isso - afirma ele, que acredita que, até o final do ano, a taxa possa cair 1,5 ponto percentual. O repasse para os clientes do banco, no entanto, não deverá acompanhar o mesmo ritmo.

- Não é só a Selic que determina a taxa cobrada ao consumidor. Outros fatores, como o alto depósito do compulsório, atualmente de 45%, a incidência da carga tributária sobre o spread bancário e a inadimplência também pesam na sua composição - justifica.

Em relação ao crescimento do PIB, previsto para 3,5%, os economistas foram unânimes em dizer que este ficará aquém do que poderia ser. Delfim o classificou como ''medíocre'' e José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, alertou que o Brasil não está sabendo aproveitar a bonança atual do mercado internacional.