Título: São 87 anos de luta
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/09/2005, Brasília, p. D3

Ela nasceu em 1918, ano em que terminou a Primeira Guerra Mundial. Atravessou o século e viu grandes acontecimentos políticos no Brasil, como a ascensão e suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas, o golpe de 1964, o renascer da democracia, a eleição de um metalúrgico para o Palácio do Planalto. Mesmo com a persistência de tanta desigualdade social, Dalva do Nascimento, 87 anos, acredita ser possível mudar o País. Acredita tanto que milita desde os 15 anos até hoje no Partido Comunista Brasileiro, sigla que passou mais da metade da existência na clandestinidade, onde é tesoureira.

Ontem, ela acompanhou do auditório as novas filiações no PDT de Leonel Brizola, na sua opinião, importante líder trabalhista, assim como Luís Carlos Prestes e o próprio Vargas. Mulher e negra, ela conta que era difícil conquistar espaço. Orgulhosa de sua coragem, conta que foi por isso que virou uma comunista.

- As mães das minhas amigas perguntavam: 'por que você vai estudar?'. E eu respondia que era para mudar alguma coisa. Sempre gostei de política. Já alfabetizei tanta gente... nem queira saber a nossa luta! - conta, saudosa.

Sobre o presidente Lula, Dalva mostra-se desiludida. Grande defensora de um governo de esquerda, lamenta que Lula ''é igual a Fernando Henrique, não muda nada'' e espera viver o suficiente para assistir a alguma diferença nas diretrizes do País. Há 87 anos ela acredita nisso.