Título: Frieza marca reencontro público de Lula e Dirceu
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 26/09/2005, País, p. A2

Um rápido e frio aperto de mão marcou o primeiro encontro público, ontem, no Rio, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o deputado José Dirceu (PT-SP), desde que o ex-ministro deixou o governo por causa dos escândalos. Os dois se encontraram no velório de Apolônio de Carvalho, um dos fundadores do PT, que morreu na sexta-feira acreditando na união do partido. O ex-ministro-chefe da Casa Civil desistiu de acompanhar o cortejo até o forno crematório, ao perceber que sua presença provocava mal-estar entre os militantes do partido. Para cumprimentar o presidente, José Dirceu percorreu um atalho: fez sinal de positivo para a primeira-dama, Marisa Letícia; aproximou-se e beijou-a no rosto. Em seguida, apertou a mão do presidente, mas não recebeu o abraço que Lula deu a outros companheiros. A frieza com que foi recebido deixou sem jeito o parlamentar, que se afastou sem conversar com nenhum dos integrantes da comitiva presidencial. Acusado de ser o mentor do esquema do mensalão e ameaçado de perder o mandato, José Dirceu esquivou-se das perguntas dos jornalistas ao declarar que o momento era inadequado para falar sobre a crise política do país.

- Não vou falar sobre a entrevista que concedi. Estou aqui com outra finalidade - observou ele.

O encontro entre Lula e Dirceu aconteceu no mesmo dia em que foi publicada a entrevista à Folha de S. Paulo, na qual o parlamentar afirma que o presidente também tem responsabilidade pela crise no partido. Para o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que veio de São Paulo no mesmo vôo que José Dirceu, a publicação da reportagem interferiu no ambiente do velório.

- Positivo é o fato de que o deputado assumiu, enfim, sua parcela de culpa pela atual crise do partido, além de admitir a existência do caixa dois - analisou o senador.

Suplicy disse ao JB que propôs ao presidente Lula que fosse ao Congresso Nacional ser sabatinado por deputados e senadores. Segundo ele, o objetivo seria esclarecer as informações de que a presidência dispõe sobre o esquema do mensalão, para tirar as dúvidas que ainda norteiam a opinião pública. Sugerida na última terça-feira durante o vôo de Brasília para São Paulo, a proposta foi descartada por Lula, que confidenciou ao senador temer a reação dos congressistas.

Amigo pessoal de Lula e de Dirceu, o ex-deputado Vladimir Palmeira conversou reservadamente com os dois, mas não confirmou que estaria articulando um encontro entre eles. Candidato a candidato ao governo do Rio pelo PT , Palmeira disse acreditar na cassação do mandato dos petistas envolvidos no mensalão.

- Com certeza, dessa nem o Dirceu escapa. Ele será cassado - prevê.