Título: Governo corre para emplacar Aldo
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 26/09/2005, País, p. A2
A 48 horas das eleições para a presidência da Câmara, a candidatura do governo, protagonizada pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), não consegue decolar. Lançado como plano B na noite de quinta para aglutinar os partidos da bancada governista, a candidatura do Planalto mantém apenas, por enquanto, o apoio da tríade original: PT-PSB-PCdoB. Os demais partidos aliados, que originalmente tinham candidatos, mantêm sua postura de independência ao Executivo, mesmo depois da liberação de R$ 500 milhões em emendas parlamentares na última sexta-feira. O carimbo governista pesa nos ombros de Aldo Rebelo. Com uma bancada de apoio composta por sete partidos, a tarefa do Planalto, na teoria, seria simples. Não é. A situação é tão confusa que o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), apresenta uma tese, no mínimo, inusitada.
- O candidato do governo é o Aldo Rebelo. Isso não significa que o candidato dos aliados ao governo seja o Aldo. Não dá para aglutinar todo mundo - resignou-se Casagrande.
- O problema não é o Aldo, nem era o Arlindo (Arlindo Chinaglia, do PT-SP, primeiro nome anunciado). O problema é que ninguém confia no Planalto - resumiu o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), integrante do chamado baixo clero e integrante do time de deputados suspeitos do mensalão.
O ex-ministro da coordenação política de Lula, Aldo Rebelo, por sua vez, está empenhado em conquistar o cargo. Em apenas um dia, ele fez 110 telefonemas para possíveis eleitores.
Todos os candidatos à presidência da Câmara passaram ontem o dia em articulações políticas e conversas de bastidores. Brasília virou uma central de contagem de votos extra-oficiais. Os partidos, sem exceção, garantem que seus candidatos estarão no segundo turno na próxima quarta. A estimativa é de que, para isso, seriam necessários um mínimo de 150 votos.
Enquanto a candidatura governista estanca em suas limitações, todos os adversários se movimentam. O peemedebista Michel Temer (SP) - outro que não consegue maioria nem mesmo dentro da legenda que preside - conversou na noite de sábado com os candidatos do PP, Ciro Nogueira (PI) e do PL, João Caldas (AL). Na manhã de ontem, chamou o petebista Luiz Antonio Fleury Filho (SP) para um café da manhã. Conversou até mesmo com o oposicionista José Thomaz Nonô (PFL-AL). O comando de campanha do peemedebista estima que, arregimentando as candidaturas dos ''nanicos'', conseguiria aproximadamente 230 votos, uma margem de votos mais do que suficientes para assegurar viabilidade na disputa.
Na conversa com Nonô , afabilidades mútuas com vistas a um possível segundo turno. Temer ressaltou que o pefelista é o candidato natural, por ser o atual vice-presidente da Casa. Ouviu de volta que tem estatura política, por ter sido duas vezes presidente da Câmara. No fundo, cada um está de olho no quinhão alheio para se cacifar na disputa.