Valor Econômico, v. 20, n. 4880, 14/11/2019. Brasil, p. A8

Guedes fala em acordo de livre-comércio com chineses, mas depois volta atrás

Estevão Taiar
Mariana Ribeiro


O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que o Brasil e a China têm conversado a respeito do estabelecimento de um acordo de livre comércio. Na sequência, entretanto, recuou e disse apenas que o governo pretende aumentar a “integração” econômica com outros países, inclusive a China.

Em palestra realizada durante a manhã, Guedes destacou positivamente o acordo comercial estabelecido neste ano entre Mercosul e União Europeia. “Agora, estamos conversando com a China sobre a possibilidade de considerarmos uma “free trade area” [zona de livre-comércio] ao mesmo tempo em que falamos em entrar na OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico]”, afirmou o ministro em seminário sobre o Brasil e o New Development Bank (NDB), conhecido como Banco do Brics.

Minutos depois, questionado por jornalistas a respeito do tema, ele afirmou apenas que o governo pretende aumentar sua “integração” econômica com outros países, inclusive a China. “Não, não, não. Aí é o seguinte: desde o início, vocês sabem disso, estamos procurando níveis de integração maior”, disse.

Ao Valor o secretário de assuntos econômicos internacionais do Ministério da Economia, Erivaldo Gomes, afirmou que o próximo objetivo da relação comercial entre Brasil e China é assinar um acordo para estabelecer empresas de ambos os países como Operador Econômico Autorizado (OEA).

O certificado de OEA é uma ferramenta de facilitação comercial prevista pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e pela Organização Mundial de Aduanas (OMA). É também uma etapa posterior ao Acordo de Reconhecimento Mútuo (ARM) assinado pelos presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da China, Xi Jinping. O acordo foi firmado em visita de Bolsonaro ao país asiático, no fim do mês passado.

Segundo o Ministério da Economia, entre os objetivos do ARM, estão: tratamento prioritário de cargas e consequente redução de custos de armazenagem; quantidade menor de documentos inspecionados; e quantidade “relativamente” menor de mercadorias inspecionadas.

Técnicos do governo ligados à área de comércio exterior, por sua vez, afirmaram que as negociações entre China e Brasil são iniciais e visam aumentar o volume e o valor agregado dos produtos exportados para o país asiático - principal destino das vendas brasileiras ao exterior.

“O que há são conversações entre os países para, por um lado, aumentar horizontalmente a pauta de exportações do Brasil para a China, incluindo novos itens de alimentos”, disse um técnico. “E também temos um desafio, que é mais interno, que é a agregação de valor na nossa produção.”