O Globo, n. 32663, 10/01/2023. Economia, p. 15

Reação do empresariado



Empresários dos mais diversos setores, indústria, comércio e infraestrutura, e entidades do setor produtivo repudiaram os atos terroristas que ocorreram no domingo em Brasília. Além de condenarem a violência, pedem a punição dos responsáveis, destacando que a estabilidade institucional e a manutenção da democraciasão fundamentais para a economia brasileira.

Parte dos executivos teme que o episódio atrapalhe a agenda econômica e o andamento de reformas necessárias para a retomada do crescimento da atividade, como a tributária. Mas há um consenso de que o episódio reforçou o papel das instituições, diante do repúdio acenas de violência no Congresso, no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Palácio do Planalto.

Cândido Bracher, ex-CEO e hoje integrante do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, condenou os atos e defendeu a punição dos responsáveis:

— Os fatos ocorridos em Brasília provocam profunda indignação no Brasil e em todo o mundo. É fundamental que os responsáveis sejam julgados e punidos com todo o rigor da lei.

Nas redes sociais, Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, compartilhou publicação do grupo Mulheres do Brasil, movimento suprapartidário comandado pela empresária, repudiando o ato de violência .“É fundamental reafirmar que a violência não faz par teda democracia.Não se tolera, se condena e se pune. Democracia hoje e sempre ”, diz anota.

Em uma rede social, Abilio Diniz, acionista do Carrefour e controlador da Península Investimentos, escreveu: “são absolutamente lamentáveis os atos violentos contra as sedes dos Três Poderes ocorridos em Brasília. Que seus perpetradores sejam punidos com todo o rigor da lei. A democracia é fundamental para o desenvolvimento do nosso país e deve ser defendida por todos”.

Diniz foi presença constante em almoços e encontros de empresários com Jair Bolsonaro. Após a derrota nas urnas, ele se manifestou dizendo estar confiante no novo governo.

Impacto nas reformas

Para o presidente da Ocyan, do setor de óleo e gás, Roberto Ramos, o mercado tende a avaliar o episódio como fato isolado diante da resposta das instituições. Mas ele teme impacto no ambiente de negócios e na atração de investimentos.

— Tão preocupante quanto qualquer disseminação do evento Brasil adentro, um risco que parece ter enfraquecido, é a possibilidade de impacto negativo na reputação internacional do Brasil, especificamente no que diz respeito à atração de investimentos estrangeiros—afirmou, defendendo que qualquer manifestação política deve ser pacífica e preservara segurança de cidadãos e a propriedade da União, estados e municípios.

Na avaliação de Walter Schalka,presidente da Suzano, gigante do papel e celulose, e um dos signatários da “Carta pela democracia” no ano passado, os atos de domingo representam uma afronta ao Estado Democrático de Direito:

— A busca por um país mais justo, próspero e sustentável é premente e não aceita a omissão da sociedade. Defendo um caminho que promova a volta da esperança e a reunificação pacífica dos brasileiros e brasileiras. O país precisa buscar a coesão e permitir a governabilidade da nova gestão, que foi genuinamente eleita e deve trabalhar para trazer esperança ao povo brasileiro.

O executivo ressalta que somente com um ambiente de união e prosperidade será possível tratar de problemas estruturais, como fome, pobreza, geração de emprego e preservação ambiental.

No setor de saúde, José Sereperi Junior, fundador da Qualicorp e presidente da operadora QSaúde, diz que as instituições saem fortalecidas desse episódio:

— Há meses convivíamos com uma sombra à democracia. O que aconteceu foi tão ruim que exigirá medidas enérgicas para a estabilidade política e jurídica, que são preceitos para a estabilidade econômica. No day after, a estrutura sai fortalecida, será preciso que o Estado mostre seu peso.

Francisco Balestrin, presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Laboratórios e Estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo (SindHosp) e do Conselho de Administração do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs), diz que os atos podem atrasar investimentos no setor:

—Todo mundo acaba fazendo um freio de arrumação para entender o que vai acontecer. Isso pode atrasar o andamento da reforma tributária. Um desenho mais simples é fundamental para o desenvolvimento econômico, mas pode ser que o Congresso precise se ocupar de outros temas agora.

Nas palavras do executivo da subsidiária de uma multinacional há décadas no país, os atos podem ter tido efeito contrário ao pretendido pelo movimento, diante da reação de reforço da democracia e da aliança entre os Poderes. Mas diz que a falha de segurança pode gerar questionamentos e que os investimentos virão de acordo com a política econômica do governo, com responsabilidade fiscal, reforma tributária e política industrial.

Recuperação do patrimônio

Teresa Vernaglia, CEO da BRK, que atua na área de saneamento, ressalta que o país precisa estar focado nas prioridades da população. Em uma rede social, repudiou com veemência os atos de domingo e disse que “o Brasil é maior do que vimos neste dia”.

— É primordial preservarmos a ordem democrática para avançarmos —disse.

Leandro Pinto, presidente do Grupo Mantiqueira, produtora de ovos, diz que é preciso identificar e punir os responsáveis pelos atos:

— É preciso cuidado para não adoecer a nação. O fato de todos os Poderes terem mostrado união é importante neste momento e mostra velocidade nas decisões.

Em nota, o Ibram informou que as mineradoras que fazem parte do instituto decidiram doar R$ 1 milhão para reparação do patrimônio público dos Três Poderes. “Todo brasileiro e brasileira deve se sentir atingido pelos ataques desferidos contra os Poderes da República. O momento é de cada um demonstrar que a violência não pode ser aceita como caminho para se protestar e impor vontades. Reconciliar o país é essencial para o desenvolvimento social e econômico”, afirma em nota.

‘Paz para não voltar a crescer’

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) destacou que o país elegeu seu presidente democraticamente e que a vontade da maioria do povo deve ser respeitada. “O governo e as instituições precisam voltara funcionar dentro da normalidade, pois o Brasil tem um desafio muito grande de voltar acrescer, gerar empregos e riqueza e alcançar maior justiça social”, afirma Robson Braga de Andrade, presidente da CNI.

Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diz que “as cenas de desordem e quebra-quebra causam profunda perplexidade institucional, que exigem firme reação do Estado”.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) repudiou os atos e disse confiar na punição dos responsáveis.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) diz em nota que os atos extrapolam os limites da democracia, promoveram depredação do patrimônio público e desrespeito às instituições. E que qualquer situação que provoque distúrbios sociais e ameace a segurança institucional contribui para um cenário de imprevisibilidade econômica e traz riscos e danos para o ambiente de negócios. Em nota, o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) afirma que “o Brasil precisa de paz para produzir e voltar acrescer ”.