Título: Últimos dias para o troca-troca
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 26/09/2005, País, p. A4

A uma semana do término do prazo para os políticos que quiserem disputar a eleição do ano que vem trocarem de partido, a movimentação no Congresso Nacional é grande. A data limite é 30 de setembro, sexta-feira, e até lá as negociações vão acontecer a todo vapor. A crise política deve influenciar as mudanças de legenda. Partidos como PT, PP, PL e PTB devem sofrer baixas, enquanto PMDB, PSDB, PPS, PDT e PFL devem engordar as bancadas.

O PTB de Roberto Jefferson já sofreu uma baixa: o governador de Roraima, Ottomar Pinto, foi para o PSDB. Outros quatro deputados da legenda devem assinar a ficha de filiação do PMDB.

O partido presidido por Michel Temer é, por sinal, o que deve ganhar mais adesões nos próximos dias. Até agora, já se filiaram os deputados André Zacharow (PR), que era do PSB, e Delfim Netto (SP), que deixou o PP. O partido ainda negocia com Vicente Cascione e Carlos Dunga, do PTB de São Paulo, o ex-petebista Salvador Zimbaldi (SP) e Edmar Moreira (PL-MG).

É na filiação de novos governadores que o PMDB aposta para aumentar sua bancada. O governador do Amazonas, Eduardo Braga, deixa o PPS e ingressa no partido na terça-feira. Com ele, vai levar o deputado Átila Lins e possivelmente outros três deputados. Ainda estão negociando com o partido, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (sem partido), e do Mato Grosso, Blairo Maggi. Se as negociações avançarem, o PMDB passará a ser o partido com o maior número de governadores, 10 ao todo. E na Câmara, a bancada, que atualmente conta com 86 deputados, deve chegar a cem, ultrapassando o PT, que hoje tem 88 parlamentares.

O PMDB ainda corre atrás de outra filiação de peso: a do vice-presidente da República, José Alencar, que saiu do PL. Alencar foi convidado pela legenda há alguns meses, mas apesar de considerar a proposta interessante, ainda estuda o retorno ao PMDB. É que nos planos políticos dele só há dois horizontes: ou concorre ao Senado e enfrenta como adversário Itamar Franco (PMDB-MG), ou concorre ao Governo de Minas Gerais e trava batalha com o tucano Aécio Neves, bem colocado nas pesquisas de opinião dentro do estado.

Mas nem só de adesões vive o PMDB. Os deputados Pastor Divino e Josias Quintal devem deixar a sigla, devido a ''choques ideológicos'' com Anthony Garotinho.

O PT, que tem a maior bancada da Câmara, se prepara para perder gente. O deputado André Costa foi para o PDT junto com o senador Cristóvam Buarque. O deputado João Alfredo saiu do partido, mas ainda não decidiu para onde vai. A esquerda do partido também deve provocar baixas e migrar para partidos legendas como o PSOL, PV ou PDT.

Com 52 deputados na bancada, o PSDB também deve sofrer modificações brandas nos dias que se seguem. O partido espera a adesão de pelo menos dois deputados de Roraima, apadrinhados do governador Ottomar Pinto, que se filiou à legenda no início do mês. Lideranças alegam que não querem o inchaço da legenda e, por isso, têm buscado a dedo novas filiações. Deve deixar o ninho tucano, o deputado Carlos Batata (PE), suplente de Severino Cavalcanti. Ele negocia sua ida para o PFL, partido do presidente em exercício da Casa, José Thomaz Nonô (AL).

Até hoje, desde a posse dos deputados, em 1º de fevereiro de 2003, houve 281 mudanças partidárias envolvendo 170 dos 513 congressistas que formam a Câmara. Alguns trocaram de sigla várias vezes, pois não há restrição legal a esse tipo de movimentação. Algumas medidas estão em estudo para conter a migração, mas não há perspectiva sobre quando serão aprovadas.