Título: Toda uma vida dedicada à nova capital do País
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2005, Brasília, p. D1

O médico Ernesto Silva estava presente em quase todos os primeiros de Brasília. A primeira visita ao que seria a futura capital, a 1ª viagem de Juscelino Kubitschek ao local, a primeira reunião de diretores da Novacap, a primeira turma de médicos do então Hospital Distrital de Brasília, hoje Hospital de Base, a inauguração do primeiro jardim de infância, os primeiros moradores de Taguatinga. Nas fotos que registram cada um desses instantes está imortalizada a figura do pioneiro, que é parte da história de Brasília. Esses e outros momentos dos 91 anos de vida de Ernesto Silva estão na exposição A Saga do Pioneiro, que poderá ser vista a partir de amanhã na Aliança Francesa (708/907 Sul), como parte das comemorações dos 120 anos da escola no Brasil.

Há 43 anos em Brasília, a Aliança Francesa tem Ernesto Silva como presidente há mais de 30 anos. O pioneiro, que morou na França em 1962, conta que participa ativamente das atividades da escola, e que escolhe pessoalmente funcionários administrativos.

- A escola é muito importante para Brasília e para o Brasil. Apesar de o inglês ser considerado hoje a língua mundial, o brasileiro tem uma ligação muito maior com a França, raízes da nossa arte e literatura vieram daquele país - acredita.

Mas ser presidente da escola de francês é apenas uma das atividades do pioneiro que tem o trabalho como lazer. Membro do Conselho de Gestão da Área de Preservação de Brasília (Conpresb), Ernesto é um defensor ferrenho do plano urbanístico de Brasília.

- Eu participei da construção de Brasília. Foi muito difícil fazer uma cidade inteira em tão pouco tempo. É por isso que eu, assim como todos os pioneiros, brigamos para manter o projeto original da cidade, porque nos apegamos àquilo que é considerado patrimônio mundial da humanidade - explica.

A ligação de Ernesto Silva com a capital federal vem desde antes mesmo do início de sua construção. O médico foi membro da chamada Comissão de Localização da Nova Capital, que escolheu o local onde Brasília seria feita.

- A minha vida mudou a partir do momento em que eu fui convidado a participar do projeto. Vim para Brasília e passei a me integrar totalmente à cidade - conta.

Depois da comissão, Ernesto foi membro da primeira diretoria da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). A homenagem por todo esse esforço está gravada em um canto escondido do Palácio do Planalto, onde o nome do médico consta como um dos construtores pela construção do prédio.

Apesar de participar da construção do berço político brasileiro e de estar sempre em contato com presidentes, senadores e deputados, o pioneiro conta que nunca foi atraído pela política.

- Nunca quis me envolver com política e nem deixei que dinheiro ou poder interferissem na minha vida. Sou muito idealista e muitas vezes, por isso, sou até chamado de bobo. É que gosto de ajudar os outros e não vou deixar de fazê-lo por que alguém acha isso bobeira - conta.

Mas na hora de criticar aqueles que estão no poder, as palavras de Ernesto não são tão amenas. Aí não escapam deputados - com uma atenção especial para os distritais -, governadores e até mesmo o presidente.

- Acompanho a política brasileira desde a época de colégio, vi o Getúlio (Vargas) ser deposto, o Jânio (Quadros) renunciar, o Fernando Collor se envolver em todos aqueles escândalos, mas nunca vi uma escândalo tão imoral como esse de agora. Nós confiamos e tínhamos esperança no PT e fomos traídos. Eles fizeram promessas demais e não estão cumprindo. Preferiram enveredar-se pelo assistencialismo barato que humilha o povo e os torna párias sociais - afirma.

Apesar da língua ferina, o olhar do pioneiro volta a ser dócil ao olhar as fotos que contam sua história.

- Vejo essas fotos com muita felicidade e com o sentimento de que cumpri o meu dever honestamente - afirma.