Título: Mais trabalho para o Pentágono
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/09/2005, Internacional, p. A7

O presidente George Bush quer pedir ao Congresso que o autorize a passar para o Pentágono o controle do esquema de resposta a grandes desastres. Se conseguir, furacões passarão a ser tratados como assunto de segurança nacional e receberão do governo americano a atenção destinada a ações terroristas. A mudança, se vier, esvazia a Agência Federal de Gerenciamentos de Emergências (Fema), criada pelo próprio presidente e duramente criticada na passagem do furacão Katrina.

A idéia surgiu ontem na reunião que Bush teve com militares na base aérea de Randolph, em San Antonio, Texas. Foi sugestão do general John White, que analisou todos os erros cometidos na coordenação do resgate às vítimas do Katrina. Um dos exemplos que deu ao presidente foi o caso de cinco helicópteros que apareceram ao mesmo tempo para resgatar uma única pessoa.

- Com o furacão Rita, contávamos com a vantagem de termos tido tempo. Em caso de um terremoto ou algo parecido, pode ser que não tenhamos esse tempo. Com um plano nacional de resposta, teríamos a possibilidade de salvar mais pessoas - disse o general, que também lembrou o fato de o Rita ter causado menos estragos do que o previsto.

Mesmo assim, há quem ainda aponte erros cometidos durante a passagem do último furacão no Sul do país. Morador do Texas, o médico brasileiro Sergio Facchini, de 54 anos, a desorganização e a falta de infra-estrutura marcaram a evacuação mandatória dos moradores texanos.

- Na quinta-feira, levei seis horas para percorrer sete quilômetros em direção a Dallas, onde ficaríamos em casa de amigos, mas fomos obrigados a desistir e voltar para casa devido ao engarrafamento caótico e a pouca gasolina que ainda tínhamos - disse Sergio, por telefone, ao JB ontem.

De acordo com o brasileiro, não houve preparo das autoridades locais para efetuar o esvaziamento, o que gerou pânico entre os que tentavam escapar para cidades vizinhas. Somente quatro das oito pistas da auto-estrada que dá acesso à cidade foram utilizadas para a saída da população, o que foi insuficiente para escoar o movimento intenso de carros.

Equipes de resgate começaram ontem a procurar moradores da Louisiana presos nos escombros provocados pelo Rita pelo estado. No Texas, onde o tufão também provocou destruição, alguns dos 2,5 milhões de moradores exilados já voltavam para casa, ignorando as recomendações do governo.

Segundo cálculos da governadora da Louisiana, Kathleen Blanco, mais de mil pessoas podem precisar de ajuda no estado - equipes de resgate já conseguiram salvar cerca de 250 na comunidade de Vermillion. A governadora pediu, ontem, US$ 31,7 bilhões ao governo federal para a reconstrução do estado, o mais afetado pelos dois furacões. O governador do Texas, Rick Perry, sobrevoou o estado ontem para analisar os danos e avaliou os prejuízos em US$ 8 bilhões. :

O alvo das equipes de resgate, agora, são as pessoas que ignoraram as orientações para para deixar suas casas. Segundo o vice-administrador da Guarda Costeira, Thad Allen, o furacão destruiu os aterros feitos com sacos de areia para reparar os danos causados pela passagem do Katrina na região.

O Rita continuou perdendo força e passou de tempestade para chuva tropical, com ventos de 32 km/h, com centro perto da cidade de Hot Springs, no estado do Arkansas. Na cidade texana de Lumberton, a polícia precisou resgatar uma família, presa em casa. Ninguém ficou ferido. Em Galveston, também no Texas, duas residências históricas e um edifício comercial foram destruídos por incêndios.

Os danos provocados pelo furacão em Houston foram menores do que o previsto. Chuva e ventos que ultrapassaram 70 quilômetros por hora provocaram a queda de muitas árvores e danificaram algumas casas, além da interrupção do fornecimento de energia elétrica durante as horas críticas da passagem do furacão.