Valor Econômico, v. 20, n. 4881, 16/11/2019. Política, p. A10

Em SP, sigla atua para recuperar ‘cinturão vermelho’

Cristiane Agostine
Malu Delgado



A principal estratégia do PT em São Paulo para as eleições de 2020 é retomar o chamado “cinturão vermelho” na região metropolitana da capital, que concentra 16 milhões de eleitores, 48,7% do Estado. O partido aposta em candidaturas de ex-prefeitos para tentar recuperar antigos redutos petistas, sobretudo no ABC.

O PT governava 9 dos 39 municípios da Grande São Paulo, incluindo a capital, no “cinturão vermelho”, mas perdeu espaço nas eleições de 2016 depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Nessa época, o partido ganhou na região apenas em Franco da Rocha, com 99 mil eleitores. No país, a legenda perdeu 61% das prefeituras que governava, passando de 638 cidades em 2012 para 255 em 2016.

Em São Bernardo do Campo, reduto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT apoiará a candidatura do ex-prefeito Luiz Marinho, presidente do diretório estadual de São Paulo. Em Diadema, a aposta será no ex-prefeito José de Filippi Júnior. Outra investida em ex-prefeito é em Osasco, com Emídio de Souza, tesoureiro nacional do PT. Em Guarulhos, segundo maior colégio eleitoral do Estado, a sigla deve escolher entre o ex-prefeito Elói Pietá e o deputado federal Alencar Santana. Em Mauá, o nome é o ex-prefeito Oswaldo Dias. Fora da Grande São Paulo, o PT definiu a candidatura do economista Marcio Pochmann em Campinas, cidade com 839 mil eleitores, terceiro colégio paulista.

A capital é o principal entrave do PT em São Paulo e deve ter o empenho pessoal do ex-presidente Lula na definição do candidato e na costura de alianças.

A princípio, Lula deve atuar em duas frentes: uma é para reaproximar a ex-prefeita Marta Suplicy do partido. A outra é para tentar convencer o ex-prefeito Fernando Haddad a disputar em 2020. Marta e Haddad são vistos por dirigentes do partido como os nomes da esquerda com mais chance para concorrer à prefeitura paulistana. Dirigentes avaliam que a chapa ‘dos sonhos’ seria a dos dois ex-prefeitos juntos.

Marta é cotada para disputar pelo PT como candidata ou vice, ou ainda concorrer pelo PDT. A ex-prefeita enfrenta resistência no PT desde que deixou a sigla em 2015, em meio a ataques ao PT, mas Lula ajudaria a pavimentar seu retorno. Enquanto ainda estava preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Lula disse em entrevista que as portas do partido estão abertas a ela.

Marta é um nome competitivo, não apenas por sua popularidade na periferia e por ter uma gestão bem avaliada, mas também porque é um dos poucos nomes da esquerda que dialoga com o centro e com figuras do PSDB, segundo avaliam petistas. A ex-prefeita insiste na tese de construir uma frente ampla da esquerda com o PT. Se disputar pelo PDT, deverá acertar um acordo com petistas para um eventual segundo turno.

Haddad é visto no PT como um nome que uniria o partido para a disputa de 2020, mas o ex-prefeito tem dito que não disputará a prefeitura novamente.

Um dos responsáveis pela interlocução com Marta, o ex-deputado Jilmar Tatto defende a chapa com os dois ex-prefeitos, apesar de dizer que Haddad “está irredutível”. “Solto, Lula vai ajudar mais no diálogo e deve pressioná-los”, diz Tatto, que foi secretário de Haddad na prefeitura.

Ainda que Lula insista na candidatura Haddad, o ex-prefeito também enfrentará resistência de parte do PT, que vê no ex-prefeito um quadro nacional, depois que disputou a Presidência em 2018. “Ele é nossa melhor alternativa para 2022 fora o Lula”, diz um dirigente nacional. Além disso, a entrada de Haddad seria um risco. Em caso de derrota, o nome do ex-prefeito se enfraqueceria para 2022. Haddad foi derrotado pelo tucano João Doria em 2016 ao tentar a reeleição na capital paulista.

Caso as candidaturas de Marta e Haddad pelo PT não prosperem, o ex-ministro Alexandre Padilha, os deputados Paulo Teixeira e Carlos Zarattini e o vereador Eduardo Suplicy disputarão a vaga no partido.