O Estado de São Paulo, n. 46809, 14/12/2021. Internacional p.A11

 

Reino Unido confirma 1ª morte pela Ômicron e acelera dose de reforço

 

Após decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, a Anvisa instruiu ontem seus agentes a cobrar passaporte da vacina de quem chega ao Brasil. A Casa Civil da Presidência informou que preparava portaria para adequar as regras à determinação do STF. Norma anterior do governo permitia que viajantes não vacinados pudessem fazer quarentena de 5 dias. A Advocacia-geral da União pediu ao STF que aceite "comprovante de recuperação" da covid como alternativa ao passaporte. Especialistas apontam, porém, risco de reinfecção e alertam para a variante Ômicron. O Reino Unido registrou a primeira morte ligada à variante. As infecções têm dobrado a cada 2 ou 3 dias no país.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, confirmou ontem que o Reino Unido registrou a primeira morte provocada pela variante Ômicron. A revelação foi feita durante uma visita a um centro de vacinação em Londres. "Infelizmente, temos a confirmação de que pelo menos um paciente morreu com a Ômicron", disse Johnson, sem dar detalhes sobre a identidade, estado de vacinação ou problemas de saúde prévios do paciente que morreu.

O premiê também chamou a atenção novamente para a gravidade da nova cepa, opondo-se à ideia de que se trata de uma variação menos preocupante. "A ideia de que esta é uma versão mais branda do vírus é algo que precisamos deixar de lado – e apenas reconhecer o ritmo com que ela avança pela população."

Nas últimas semanas, Johnson vem alertando que o Reino Unido deveria se preparar para a chegada de um tsunami de novos casos de covid causados pela Ômicron. "Ninguém deve ter dúvidas: se aproxima um tsunami da Ômicron. Receio que já estejamos enfrentando uma emergência em nossa batalha com a nova variante", disse o premiê.

A Ômicron tem se espalhado de forma preocupante pelo Reino Unido. De acordo com Johnson, atualmente, cerca de 40% dos casos de covid registrados em Londres são provocados pela nova cepa. O secretário de Saúde britânico, Sajid Javid, disse ontem que as infecções por Ômicron têm dobrado a cada dois ou três dias.

Para evitar o pior, longas filas vêm se formando nos centros de vacinação no Reino Unido, para obter uma dose de reforço. No domingo, o governo anunciou que aceleraria a campanha de imunização e faria um esforço para dar uma dose extra para todos acima de 18 anos até o réveillon – as doses adicionais começaram ontem para quem completou a imunização há três meses no mínimo.

 

FUTEBOL. Além da vacinação, novas restrições entram em vigor nesta semana, incluindo o uso de máscaras na maioria dos locais fechados, apresentação de prova de vacinação ou teste negativo de covid para entrada em locais com aglomeração e um apelo para que as pessoas que possam, trabalhem de casa.

O aumento do número de casos, no entanto, já afeta o senso de normalidade construído em torno do esporte mais popular do país: o futebol. Ontem, a liga inglesa anunciou que 42 jogadores e dirigentes testaram positivo nos últimos sete dias, um recorde desde o início dos exames e mais de três vezes a quantidade de casos registrados na semana anterior.

Os dirigentes apostam que as medidas emergenciais reduzirão o número de casos e permitirão que o campeonato inglês continue. De acordo com eles, o processo terá um efeito parecido com o que ocorreu com a variante Beta, em janeiro. Especialistas, no entanto, não sabem se os mesmos protocolos funcionarão de forma tão eficaz contra a Ômicron, que é mais transmissível.

 

EUROPA. Outros países da Europa também estão apertando o cerco contra a nova variante. A Noruega, que ontem bateu o recorde de hospitalizações diárias – com 358 internações –, anunciou a proibição do consumo de álcool em bares e restaurantes, além de regras mais rígidas nas escolas e da aceleração do programa de vacinação.

O governo da Dinamarca disse ontem que a Ômicron deve se tornar a variante dominante no país ainda esta semana, com novos casos diários chegando a cerca de 10 mil. Autoridades sanitárias anteciparam a dose de reforço para pessoas com mais de 40 anos.

Mesmo com as pesadas restrições impostas, a China confirmou ontem seu primeiro caso da variante Ômicron. De acordo com a TV estatal CGTN, o caso foi reportado na cidade de Tianjin, a 110 quilômetros de Pequim, e teria sido "importado do exterior". O caso foi confirmado pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças.

 

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Desinformação já passou à frente dos cientistas

 

ANÁLISE: GERRIT DE VYNCK 

 

Em julho, uma apresentação de slides falsa com os logotipos da OMS e do Fórum Econômico Mundial, mostrando um cronograma de quando as variantes seriam "lançadas", disparou nas redes sociais, acumulando milhares de curtidas no Twitter e no Instagram. Influenciadores antivacina postaram a imagem, citando-a como uma prova de que a pandemia foi orquestrada por interesses poderosos e novas variantes eram parte de um plano obscuro.

Em novembro, quando cientistas sul-africanos identificaram a Ômicron, a imagem falsa circulou novamente, postada por pessoas que acham que a cepa é uma conspiração global. Outras alegações falsas sobre a nova variante surgiram nas semanas seguintes. Uma postagem em um grupo com mais de um milhão de membros no Telegram alegou que as vacinas causaram a Ômicron.

Outra teoria defende que a cepa foi promovida por governos e farmacêuticas para minar a ivermectina, droga que os céticos da vacina dizem curar a covid-19. As novas tensões são a última rusga no que tem sido uma batalha entre as companhias de mídia social e aqueles que se aproveitam de uma sede global por conhecimento e fatos diante de um vazio de informações. Embora Facebook, Twitter e Youtube tenham banido a desinformação, ela continua a se espalhar. "É um exemplo clássico de quando você tem um vácuo e ele é preenchido com teorias da conspiração", disse Claire Wardle, diretora da First Draft.

Para piorar, quase dois anos após o início da pandemia, muitos estão cansados e podem ser ainda mais suscetíveis a informações falsas. "Esse cansaço é real. As pessoas simplesmente não querem lidar com isso", disse Rachel Moran, professora da Universidade de Washington, que estuda como as informações online influenciam a crença das pessoas.

A incerteza continuará desgastando as pessoas no terceiro ano de pandemia. "As pessoas são atraídas por conspirações porque, para elas, parece que há um aspecto explicativo", disse Wardle. "Há uma certeza que é revigorante, porque dois anos de incerteza parecem simplesmente horríveis."