Título: A nova conta do crescimento
Autor: Sabrina Lorenzi e Sandra Nascimento
Fonte: Jornal do Brasil, 26/09/2005, Economia & Negócios, p. A18

O IBGE apresenta no próximo mês um novo modelo de cálculo para o Produto Interno Bruto (PIB). O resultado deve culminar num PIB mais sensível às variações da economia, tanto para cima como para baixo, já a partir de 2006. A mudança metodológica promete acabar com a estabilidade das taxas dos serviços, que, ao contrário da indústria e da agropecuária, vêm apresentando variações pouco significativas a cada ano. A volatilidade tende a ser maior porque o IBGE decidiu parar de calcular o desempenho da administração pública (item de peso nos serviços) com base no crescimento da população, inexpressivo. O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, antecipou que está testando indicadores de emprego e de custos do material consumido pelo governo para calcular o segmento. A administração pública responde por 16% do conjunto de riquezas e está incluída na conta de serviços.

A mudança atende a uma das mais recentes recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU). Desde 2000, o IBGE trabalha para adaptar as Contas Nacionais aos critérios de padronização definidos pela ONU. Todos os setores da economia serão atualizados pelas últimas pesquisas anuais do IBGE de indústria, serviços, comércio, construção, consumo e agropecuária. As maiores alterações devem surgir da telefonia, da agricultura e da administração pública, que terão mais impacto no PIB.

Entre os críticos ao atual modelo estão o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes, da Macrométrica, e economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que em recente boletim faz menção à falta de oscilação dos serviços. Nas simulações de Lopes, a equação para os itens administração pública e aluguel é alterada de modo que seu crescimento seja igual ao do PIB. Resultado: para 2005, a expansão do produto pode ser de até 1,5 ponto percentual a mais que o resultado pelo método atual - de 5% e não 3,5%, portanto.

A Pesquisa Anual de Serviços vai atualizar o setor, mas a mudança mais expressiva será na troca de indicadores no cálculo do item Administração Pública. ''Em 1995, (...) a indústria chegou a apresentar variação negativa de 6% enquanto o PIB caía apenas 2%. Em 2001, a indústria chegou a cair 5% enquanto o PIB caía menos de 1% no mesmo trimestre'', comenta Lopes no estudo Desafios da Macroeconomia Brasileira.

Os argumentos do presidente do IBGE para justificar a metodologia atual são convincentes. O critério foi adotado nos primeiros anos da década de 90, quando a inflação acima de 2.000% tornava inviável o uso de indexadores.

- Isso pode subestimar o PIB agora, mas também aliviou a taxa em momentos de retração - admite Nunes.

Em seu estudo, Lopes diz que o PIB, em 2005, deveria crescer 1 ponto percentual, para 4,8%.

- Não sei se a inclusão de novos indicadores fará diferença. Se essa hipótese (de mais volatilidade) for verdadeira, vai fazer crescer o PIB - diz Nunes.