Título: Tráfico de animais movimenta R$ 1 bi
Autor: Adriana Bernardes
Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2005, Brasília, p. D4

Capturar animais na natureza é crime. Toda vez que alguém faz isso com o objetivo de vender, é considerado traficante de animais silvestres. Quem compra financia e alimenta o tráfico é considerado receptador e também responde por crime ambiental. A multa por animal é de R$ 500. Se estiver na lista de extinção da Convenção Internacional do Tráfico de Espécies Silvestres II (Cites II, papagaios, por exemplo) o valor por bicho sobe para R$ 3 mil. Mas pode chegar a R$ 5 mil para os animais incluídos na Cites I (arara-azul). Mercado - Segundo relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito, que apurou o tráfico de animais e plantas silvestres no Brasil em 1993, a estimativa é que o comércio ilegal de animais movimente cerca de U$$ 1 bilhão por ano. Em volume de recursos, só perde para o tráfico de drogas e de armas.

Acredita-se que 12 milhões de animais por ano são comercializados de forma ilegal no País (WWF-Brasil). E mais: de cada 10 animais retirados da natureza, apenas um consegue sobreviver às péssimas condições de captura e transporte, segundo estimativas da Renctas, uma organização sem fins lucrativos para o combate ao tráfico de animais da biodiversidade brasileira.

Combate - O combate a este tipo de crime esbarra numa questão cultural. O chefe da Fiscalização do Ibama, Antônio Wilson Pereira da Costa, lembra que desde a colonização os portugueses levaram araras e papagaios para Portugal ou os mantinha em cativeiro.

- Essa é uma questão comparada a escravidão. Houve um tempo em que isso era admitido. Hoje, a sociedade não aceita mais. Precisamos educar as pessoas para que tenham consciência do crime que estão cometendo de forma direta ou indireta ao alimentar esse mercado - afirma Antônio Wilson.

No Brasil, o tráfico de animais passa por questões sociais que oscilam da miséria à classe alta. Segundo Gil, principalmente na Bahia, a captura de animais é feita por famílias que vivem na miséria e trocam os pássaros por comida ou recebem R$ 1 a R$ 2 por bicho.

Na outra ponta está as classe média e média alta, que compram uma arara como mais um objeto de desejo ou porque gosta realmente do animal.

- Reverter este aspecto cultural e social é algo complicado. O tráfico não melhora a condição de vida de quem vive na miséria. Se não tiver que compra, não terá quem trafica. Vai ficar mais fácil para órgãos atuarem. Hoje se eu sair com um caminhão, volto com ele cheio de passarinhos irregulares - diz Gil.